Avelino Ferreira Torres morreu. Tinha 74 anos. Personalidade polémica, com coutadas no futebol e na política, provável introdutor do "populismo" em Portugal, foi presidente da Câmara do Marco de Canaveses durante mais de duas décadas. Teve nome em estádio, participou no reality show Quinta das Celebridades, da TVI, e esteve envolvido no processo Apito Dourado.
Paradigma rústico do quero, posso e mando, irascível, provocador, feitio rufião, sempre com uma ameaça na ponta da língua e disponível para resolver todas as questões à estalada, suspeito de ligação à rede bombista de extrema-direita (MDLP) no pós-Abril de 1974, Ferreira Torres passava a vida nos tribunais, acusado de tudo e de mais alguma coisa. De incitar à violência no futebol, de peculato e peculato de uso, com condenação, de falsificação de assinatura, de abuso de poder, de gestão danosa, de enriquecimento ilícito, de corrupção, de extorsão e até de ter ordenado a morte, não concretizada, de um ex-colaborador.
Conheci Avelino Ferreira Torres. Entrevistei-o, se não me engano, pelo menos três vezes. "O senhor é mesmo capaz de mandar matar pessoas?", perguntei-lhe de chofre para o jornal 24 horas, em Abril de 2008. "Que me mostrem onde é que eu mandei matar alguém. Eu sou incapaz de matar uma mosca. A partir de certa altura deixei de poder ver sangue. Quando era criança via e até ajudava a matar as galinhas e os porcos, mas agora, se vejo sangue, viro logo a cara para o lado", respondeu-me Avelino, numa exaltação de faz de conta e ditando cuidadosamente as palavras. Realmente, uma figura. E deixa-me saudades.
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