[Nada tive que era meu]
Nada tive que era meu.
Perdi estradas, perdi leito.
Na pedra onde me deito
nada fala de alvos linhos.
Se com cegos me aventuro
a caminho rente aos muros,
é que meus olhos impuros
sonham Cristos nos caminhos.
Nada tive que era meu
e o corpo não o quero eu.
Podia servir de embalo,
mas serve de sepultura.
Cemitério de asas finas,
tange e plange aladas crinas,
canto de praias sulinas
de infinitas amarguras...
"Poemas", Natércia Freire
(Natércia Freire nasceu no dia 28 de Outubro de 1919. Morreu em 2004.)
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