A um homem
Quando numa rocha porosa
Cansado te encostares
E dela vires surgir a umidade e depois a gota,
Pensa, amado meu, com carinho,
Que aí esta a minha boca.
Se teus olhos ficarem nas praias
E vires o mar ensalivando a areia
Com alegria pensa, amado meu,
Num corpo feliz
Porque é só teu.
Se descansares sob uma árvore frondosa
E além da sombra ela te envolver de ar resinoso
Lembra-te com entorpecência amado meu,
Da delícia do meu ventre amoroso.
Quando olhares o céu
E vires a andorinha tonta na amplidão
Pensa, amado meu, que assim sou eu
Perdida na infindável solidão.
A noite quando as trevas chegarem
E vires do firmamento
Uma estrela cair e se afundar
É sinal, amado meu,
Que o teu amor vai me abandonar.
Na morte, quando perderes o último sentido
E a tua própria voz
Em forma de pensamento
Te subir ao ouvido
Deixa escorrer a derradeira lágrima pelo teu rosto
Nascida do extremo alento do coração
E pensa então, amado meu,
Que ainda é um suave carinho da minha mão!
"A Mulher Ausente", Adalgisa Nery
(Adalgisa Nery nasceu no dia 29 de Outubro de 1905. Morreu em 1980.)
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