domingo, 13 de outubro de 2019

Artur Augusto da Silva 3

Morreu o homem

Mamadú Baldé, filho de Salifo, filho de lndjai, filho de Tchamo, filho de Monjur, filho de Mutari, cuja linhagem se perde há mais de dois mil anos nas terras do Egipto e de quem os antepassados remotos viram Moisés e Maomé e com eles conversaram sobre o tempo e as colheitas.
Mamadú Baldé morreu. Mamadú Baldé, o sábio que falava com Alá e era bom e era justo, morreu.
Cavaleiros e tambores levaram a notícia a toda a parte: subiram as encostas do Futa-Djalon e desceram para o mar. Percorreram o Sudão até Cao e Tombucutú e desceram ao lago Tchade.
E toda a terra dos fulas repetiu: morreu Mamadú Baldé:
O sol parou o seu caminho, espreitou para Labé, viu Mamadú morto, e continuou. A lua parou também o seu caminho, espreitou e continuou.
Os rios que nascem no tecto do mundo pararam na sua corrida para o mar e prosseguiram. E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu.

"E o Poeta Pegou Num Pedaço de Papel e Escreveu", Artur Augusto da Silva

(Artur Augusto da Silva nasceu no dia 14 de Outubro de 1912. Morreu em 1983.)

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