sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Waldemar Lopes 3

Soneto dos bois na madrugada

São clamores? são gritos? são gemidos?
Entre a música líquida, nos ares,
a lâmina de angústia dos mugidos
fere os nervos da noite... Os passos pares.

Verdores de vergéis. A brisa. Os idos
acalantos de aboio. E sóis de luares.
Velhos pastos do tempo, remoídos
nas doçuras rurais, e em seus vagares.

Era a vida? Floriu, dor libertada.
Rubra rosa na relva, eis a recente
memoração da morte: céu de engano

refletido no sangue da alvorada,
sob o triste clamor puro e pungente
desse pranto animal - e mais que humano.


"Memória do Tempo", Waldemar Lopes

(Waldemar Lopes nasceu no dia 1 de Fevereiro de 1911. Morreu em 2006.)

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