Soneto dos bois na madrugada
São clamores? são gritos? são gemidos?
Entre a música líquida, nos ares,
a lâmina de angústia dos mugidos
fere os nervos da noite... Os passos pares.
Verdores de vergéis. A brisa. Os idos
acalantos de aboio. E sóis de luares.
Velhos pastos do tempo, remoídos
nas doçuras rurais, e em seus vagares.
Era a vida? Floriu, dor libertada.
Rubra rosa na relva, eis a recente
memoração da morte: céu de engano
refletido no sangue da alvorada,
sob o triste clamor puro e pungente
desse pranto animal - e mais que humano.
"Memória do Tempo", Waldemar Lopes
(Waldemar Lopes nasceu no dia 1 de Fevereiro de 1911. Morreu em 2006.)
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