segunda-feira, 10 de setembro de 2018
Naquele tempo o Menino Jesus era nosso
As coisas em que a gente acredita quando é miúdo! Eu, por exemplo, 
acreditava piamente que o Menino Jesus era português - morra já aqui se 
estou a mentir. Eu ia à missa, ajudava, ouvia com gosto aqueles 
bocadinhos de 
Bíblia e fazia a conexão que se impunha: se a Samaritana é de Coimbra, 
se os apóstolos são todos portugueses - João e Tiago, filhos de Zebedeu, Pedro, André, Mateus, 
Tomé, Judas, e por aí fora -, se o Jordão é em Guimarães e o Calvário em 
Fafe, se Roma é uma avenida em Lisboa, se Nazaré e Belém são nossos, então o
 Menino Jesus também é. Deus é nosso. Se Deus quiser até joga na Selecção e marca os golos que Lhe apetecer. Já 
grande, e após alguns anos de reeducação nos trabalhos forçados 
do seminário, passei a olhar com um certo carinho e determinada melancolia para esta minha crença
 infantil e patriótica. Depois veio Cavaco Silva, em 2006, e eu deixei 
finalmente de acreditar. Dediquei-me à exegese, à hermenêutica, à 
toponímia, à geografia e à natação sincronizada sob chuveiro, sem ofensa para os presentes e apenas às 
primeiras quartas-feiras de cada mês, de três em três meses, dez minutos
 antes de me deitar. 
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