Outras vezes, ficava a ouvir as proezas de caça e de vaquejadas, transes arriscados e artimanhas sutis contra feras e bois bravos, misturados por caçadores e vaqueiros aos entretenimentos práticos da vida, quando a chama da fogueira os reunia no prazer de uma fumaça e no maior de despertar a curiosidade, e dar um interesse. Já lhes aprendera a gíria difícil e expressiva e não encontrava mistério quando ouvia ao Sérgio contar que dera na malhada grande com uma novilha bargada, ponta baixa, com uma estrela na testa, bico de renda e buraco de bala na orelha direita, forquilha e entalhada por cima na outra orelha... ou riscar com a ponta de um garrancho, no chão frouxo, o ferro da pá esquerda, uma flor com um monograma incluso: era a marca do Zé Lopes, do Encravado. E as histórias de Trancoso, façanhas, guerrilhas, tretas, esconjuros, assombramentos, notícias de casos rústicos e comuns pareciam-lhe mais divertidos e sadios que as literaturas perversas, indecorosas, as vaidades imbecis e os jornais interesseiros, que alimentam a curiosidade intelectual dos civilizados...
"A Esfinge", Afrânio Peixoto
(Afrânio Peixoto nasceu no dia 17 de Dezembro de 1876. Morreu em 1947.)
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