Espelho
Entre nuvens de sombra e sóis de acaso,
Trago no lábio o espinho desta sede:
- Fátuo fui eu, quando supus durável
o fogo-fátuo dos teus olhos verdes!
às vezes surges num clarão de tarde!
E murchas num contorno de parede,
Antes que eu possa, ansioso, debruçar-me
E em teus lábios matar a minha sede.
Mas - água esquiva, fogo-fátuo! - quando,
Na orfandade das noites silenciosas,
Teu hálito povoa o meu deserto,
Ergo-me, em transe, e bebo, delirando,
Orvalho em tuas mãos, ó irmã das rosas,
Espelho do fugaz, eco do incerto.
"Cantares de Amor e Solidão", Geraldo Vidigal
(Geraldo Vidigal nasceu no dia 18 de Novembro de 1921. Morreu em 2010.)
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