A Popota e a Leopoldina já por aí andam, os amigos com quem não falamos há 351 dias ligam-nos repentinamente por causa do tal almoço, as ruas esburacadas ganham luzinhas pisca-pisca, as castanhas assadas saíram uma merda, o José Marinho continua gongórico e oco, portanto palerma ininterrupto, os filmes e séries da televisão começam a puxar à lágrima, não há maneira de chover em condições, mas quer dizer que estamos no Natal. Tolero os amigos absentistas, as iluminações adventistas e até aquénios de ouriço cheios de bolor e bicho verificáveis logo após descasque, como ainda no outro dia - exactamente Dia de São Martinho, a dois euros a dúzia de três. Já quanto à Leopoldina e à Popota, que se me afiguram razoavelmente prostitutas, eu continuo a preferir o Menino Jesus.
Não me interpretem mal, por favor. Eu gosto do Natal. Isto é: não gosto do Natal, mas a minha mulher e o meu filho gostam muito, e portanto eu gosto do Natal, esse estranho paradoxo que alegra e deprime, e que é também um equívoco: marcado para o dia 25 de Dezembro, toda a gente sabe que é na noite de 24 do mesmo.
O Natal dá-me saudades do Menino Jesus e do meu pai. Não acredito na Popota nem na Leopoldina, mas também nunca acreditei no Pai Natal, embora que o há há, ou ho ho, e não gosto de Coca-Cola. Velhos com barbas brancas bastamos euzinho cá em baixo e o Imenso lá em cima. Quanto ao xarope, fico-me pelo da tosse, muito agradecido. O Menino Jesus sim, diz-me respeito, e ainda hoje acredito. O Menino Jesus e o meu pai deviam ser da corda, porque era o meu pai quem me punha no sapatinho as avelãs, os chocolatinhos e o par de meias que o Menino Jesus me dava, isso eu sabia. Tão unha com carne deveriam ser os dois que o Menino Jesus nasceu no dia 25 de Dezembro e o meu pai, tudo combinado lá entre eles para nos fazerem surpresa, morreu de véspera.
As árvores. As árvores acendem-se, tremeluzem como se estivessem bêbadas, e é o que ouço na rua às pessoas que comem palavras, ainda que palavras pequenas, palavras ínfimas, as pessoas comem o artigo definido à falta de alimento substantivo, comem migalhas, palavras de uma letra só, e mais vale comer palavras, ainda que resumidas e insossas, do que não comer nada. Ouço, como se fossem dois pré-cegos:
- Então, se não voltar a ver, um bom Natal e feliz ano novo...
- Para si também, se não voltar a ver, um Natal feliz e muitas prosperidades...
Dá-me para isto ultimamente, para os abraços e para perguntar aos meus amigos: - Andas feliz? És feliz? - Pergunto acerca do coração, dos afectos, do casamento, do divórcio, da mulher, da namorada, da mulher e das namoradas (há quem acumule), dos filhos, dos netos, dos irmãos, dos pais, dos sogros, da saúde, da fé, das ideias, da poesia, de Deus, dos sonhos, da vida. Falo de bondade, de amor, de compaixão, de vinho. "És feliz? Andas feliz?", é o que pergunto, exactamente da mesma maneira que pergunto em casa, à mesa, se a comidinha que eu cozinhei está boa. Porque. A vida para ter algum jeito também deve saber bem, não é? Os meus amigos interessam-me muito e por isso é que são sem aspas e sem Facebook. Somos amigos cara a cara, de abraço de carne e osso, e uma boa meia dúzia.
Não me interpretem mal, por favor. Eu gosto do Natal. Isto é: não gosto do Natal, mas a minha mulher e o meu filho gostam muito, e portanto eu gosto do Natal, esse estranho paradoxo que alegra e deprime, e que é também um equívoco: marcado para o dia 25 de Dezembro, toda a gente sabe que é na noite de 24 do mesmo.
O Natal dá-me saudades do Menino Jesus e do meu pai. Não acredito na Popota nem na Leopoldina, mas também nunca acreditei no Pai Natal, embora que o há há, ou ho ho, e não gosto de Coca-Cola. Velhos com barbas brancas bastamos euzinho cá em baixo e o Imenso lá em cima. Quanto ao xarope, fico-me pelo da tosse, muito agradecido. O Menino Jesus sim, diz-me respeito, e ainda hoje acredito. O Menino Jesus e o meu pai deviam ser da corda, porque era o meu pai quem me punha no sapatinho as avelãs, os chocolatinhos e o par de meias que o Menino Jesus me dava, isso eu sabia. Tão unha com carne deveriam ser os dois que o Menino Jesus nasceu no dia 25 de Dezembro e o meu pai, tudo combinado lá entre eles para nos fazerem surpresa, morreu de véspera.
As árvores. As árvores acendem-se, tremeluzem como se estivessem bêbadas, e é o que ouço na rua às pessoas que comem palavras, ainda que palavras pequenas, palavras ínfimas, as pessoas comem o artigo definido à falta de alimento substantivo, comem migalhas, palavras de uma letra só, e mais vale comer palavras, ainda que resumidas e insossas, do que não comer nada. Ouço, como se fossem dois pré-cegos:
- Então, se não voltar a ver, um bom Natal e feliz ano novo...
- Para si também, se não voltar a ver, um Natal feliz e muitas prosperidades...
Dá-me para isto ultimamente, para os abraços e para perguntar aos meus amigos: - Andas feliz? És feliz? - Pergunto acerca do coração, dos afectos, do casamento, do divórcio, da mulher, da namorada, da mulher e das namoradas (há quem acumule), dos filhos, dos netos, dos irmãos, dos pais, dos sogros, da saúde, da fé, das ideias, da poesia, de Deus, dos sonhos, da vida. Falo de bondade, de amor, de compaixão, de vinho. "És feliz? Andas feliz?", é o que pergunto, exactamente da mesma maneira que pergunto em casa, à mesa, se a comidinha que eu cozinhei está boa. Porque. A vida para ter algum jeito também deve saber bem, não é? Os meus amigos interessam-me muito e por isso é que são sem aspas e sem Facebook. Somos amigos cara a cara, de abraço de carne e osso, e uma boa meia dúzia.
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