O poeta
Ninguém saiba quem sou. Quero viver sepulto
Na minha solidão grandíloqua de asceta,
Preferindo aos clarões do mundo a luz secreta,
Que aclara, quando é sonho, e abrasa, quando é culto.
Perpasse eu pela vida aparentando um vulto
Envolto no pudor, como visão discreta.
Mas que surja, por fim, transfigurado em poeta,
Da crisálida azul em que o meu ser oculto.
E, através da efusão fecundante do dia,
Suba àquelas regiões, de onde os sóis não se somem,
No equilíbrio imortal da suprema harmonia.
E fique no esplendor que as eras não consomem,
Provando, pela glória estranha da poesia,
Como pode caber um deus dentro de um homem!
"Colunas", Luís Carlos
(Luís Carlos - Luís Carlos da Fonseca Monteiro de Barros - nasceu no dia 10 de Abril de 1880. Morreu em 1932.)
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