sábado, 29 de abril de 2017

Alda do Espírito Santo

Angolares

Canoa frágil, à beira da praia,
panos preso na cintura,
uma vela a flutuar…
Caleima, mar em fora
canoa flutuando por sobre as procelas das águas,
lá vai o barquinho da fome.
Rostos duros de angolares
na luta com o gandu
por sobre a procela das ondas
remando, remando
no mar dos tubarões
pela fome de cada dia.

Lá longe, na praia,
na orla dos coqueiros
quissandas em fila,
abrigando cubatas,
izaquente cozido
em panela de barro.

Hoje, amanhã e todos os dias
espreita a canoa andante por sobre a procela das águas.
A canoa é vida
a praia é extensa,
areal, areal sem fim.
Nas canoas amarradas
aos coqueiros da praia.
O mar é vida.
Para além as terras do cacau
nada dizem ao angolar,
"Terras tem seu dono".

E o angolar na faina do mar,
tem a orla da praia
as cubatas de quissandas
as gibas pestilentas
mas não tem terras.

Para ele, a luta das ondas,
a luta com o gandu,
as canoas balouçando no mar
e a orla imensa da praia.


"É nosso o Solo Sagrado da Terra", Alda do Espírito Santo 

(Alda do Espírito Santo nasceu no dia 30 de Abril de 1926. Morreu em 2010.)

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