quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Waldemar Lopes

Soneto da esperança 

Tempo de azul e não. Desencantado
reino do que não foi, mundo postiço,
ontem feito de agora, hoje passado:
na essência do não-ser o instante omisso.

(Margaridas da tarde, onde o seu viço?
Choro de água nos ares, lento e alado
caminho cor de sonhos? Insubmisso
mar sem datas, desfeito e recriado?)

Suaves rechãs por onde a mão do vento
esculpia no verde a sombra exata
e as imagens que o olhar já não alcança.

Aventuras tão-só do pensamento:
arco de azul, a tarde era a fragata
supérflua, para o exílio da esperança.)


"Memória do Tempo", Waldemar Lopes

(Waldemar Lopes nasceu no dia 1 de Fevereiro de 1911. Morreu em 2006.)

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