Um
cego andava pedindo esmola pela mão de um moço; a uma porta deram-lhe um naco de pão e um bocado de linguiça. O moço pegou no pão e deu-o ao cego para metê-lo
na sacola, e ia comendo a linguiça muito à sorrelfa. O cego, desconfiado, pelo
caminho começa a bradar com o moço:
- Ó grande tratante, cheira-me a linguiça! Acolá deram-me linguiça e tu só me entregaste o pão.
- Pela minha salvação, que não deram senão pão.
- Mas cheira-me a linguiça, refinado larápio!
E começou a bater com o bordão no moço pancadas de criar bicho. O moço era ladino e disse lá para si que o cego lhas havia de pagar. Quando iam por uns campos onde estavam uns sobreiros, o moço embicou o cego para um tronco, e grita-lhe:
- Salta, que é rego. O cego vai para saltar e bate com os focinhos no sobreiro. Grita ele:
- Ó rapaz do diabo! Que te racho.
Diz-lhe ele:
- Ó grande tratante, cheira-me a linguiça! Acolá deram-me linguiça e tu só me entregaste o pão.
- Pela minha salvação, que não deram senão pão.
- Mas cheira-me a linguiça, refinado larápio!
E começou a bater com o bordão no moço pancadas de criar bicho. O moço era ladino e disse lá para si que o cego lhas havia de pagar. Quando iam por uns campos onde estavam uns sobreiros, o moço embicou o cego para um tronco, e grita-lhe:
- Salta, que é rego. O cego vai para saltar e bate com os focinhos no sobreiro. Grita ele:
- Ó rapaz do diabo! Que te racho.
Diz-lhe ele:
Pois cheira-lhe o pão a linguiça,
E não lhe cheira o sobreiro à cortiça?
(Teófilo Braga nasceu no dia 24 de Fevereiro de 1843. Morreu em 1924.)
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