sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Crónicas de Matosinhos (para rasgar antes de ler) 17

Foto Hernâni Von Doellinger

Diz que o Metro do Porto está entregue aos bichos
Contam-me que a Linha Azul (A) do Metro do Porto (Estádio do Dragão-Senhor de Matosinhos) é cada vez mais o Expresso do Drogódromo do Viso. Porto, 1 - Lisboa, 0. Nem o Casal Ventoso, nos seus tempos de glória, esteve assim tão bem servido de transportes públicos.
A fauna toxicodependente tem de tudo, como as farmácias e as lojas dos chineses. Há os mansos, que vão no seu canto e querem é que os deixem em paz, e ninguém tem nada com isso, mas também há uma perigosa corja de rufias, provocadores e ameaçadores em plena luz do dia e em horas de ponta e mola. Dizem-me que a minoria não toxicodependente dos passageiros da Linha Azul (A) anda cheia de medo desta gente.
E os seguranças também. Consta que ninguém os vê, aos seguranças, na Linha Azul (A) do Metro do Porto desde o princípio do ano. Será um exagero, mas quer-se dizer: os drogados tomaram conta, e a segurança desertou.
Atenção, esta parte eu não critico. Eu se fosse segurança também me fazia de ceguinho, ou pelo menos olhava para o outro lado, ou saía quando eles entrassem, porque sou cobarde e não tenho músculos que se vejam nem corte de cabelo nazi, e por isso é que não sou segurança. Eu se fosse segurança, palavra de honra, nem sequer me metia com os gandulos que agora viajam na esplanada das traseiras do metro sem que uma farda qualquer os arranque dali para fora pelas orelhas e, já agora, com um par de estalos.

Os médicos, as farmácias e o sistema
Fui à farmácia comprar o antibiótico. A senhora doutora farmacêutica perguntou-me:
- Marca ou genérico?
- O mais barato, se faz favor. Pode ser de saldo, se tiver, ou mesmo em segunda mão, se for em conta - respondi.
Veio o antibiótico. Genérico.
- São seis euros e setenta e nove - informou-me a senhora doutora farmacêutica.
- Seis euros e setenta e nove? - espantei-me. - Mas o senhor doutor médico escreveu aqui na receita que, e passo a citar, "esta prescrição custa-lhe, no máximo, 77 cêntimos, a não ser que opte por um medicamento mais caro"...
- Pois, mas não ligue a isso. É o que eles têm lá no sistema. O preço muda ao fim de três meses - disse-me a senhora doutora farmacêutica.
- Mas a receita é de hoje, fresquíssima - atalhei.
- Pois, mas é o sistema - reiterou a senhora doutora farmacêutica.
- E o sistema "deles" não é o mesmo sistema das farmácias? Entre 77 cêntimos e seis euros e setenta e nove vai uma diferença de quase dez vezes mais, como é que isto é possível? - inquiri e tornei a inquirir.
- Faça o favor de ver aqui no computador. Na verdade há mais barato, este de três euros e quinze, mas que hoje, por acaso, até já custa cinco euros e trinta e sete, e não temos - explicou-me a senhora doutora farmacêutica.
- Mas a custar 77 cêntimos é que nada - insisti.
- Nem de perto nem de longe, é o sistema - insistiu, por seu lado, a senhora doutora farmacêutica.
- E os senhores doutores médicos sabem? - eu.
- Sabem, sabem - a senhora doutora farmacêutica.
- Desculpe voltar ao mesmo: mas então porque é que os senhores doutores médicos escrevem estes preços nas receitas se sabem que estão a enganar os doentes?
- É para pressionar as farmácias - segredou-me a senhora doutora farmacêutica, chegando-se-me ao ouvido.
- E tem resultado, não tem? - devolvi-lhe eu, no mesmo tom confidencial.

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