10. A Padeira de Aljubarrota. É a chamada mulher de barba rija. Feia, grande, cabelos espetados, seis dedos em cada mão e forte como um hércules. E o nome, Brites de Almeida, também lhe fica ao modo, tal como um certo comportamento masculino e o bigode de que ninguém fala mas que certamente. Assim seria a Padeira de Aljubarrota, segundo a tradição popular, porém já se sabe: quem conta um conto acrescenta um ponto, e assim nasce o mito.
Esta padeira nunca existiu. Ainda assim, a lenda liga-a à Batalha de Aljubarrota e ao massacre que se lhe teria seguido, mas que também nunca aconteceu. Brites seria a líder de um grupo de populares que perseguiu os castelhanos em fuga, tendo-se emboscado e morto com as as próprias mãos muitos deles.
Nessa noite de 14 de Agosto de 1385, a padeira chegou a casa e encontrou sete espanhóis escondidos no forno onde costumava cozer o pão. Sem pestanejar, ou ainda que pestanejando derivado à farinha, pegou na pá e bateu-lhes até os matar, um a um, à medida que os dresgraçados iam saindo do forno.
Francisco Ribeiro da Silva, professor catedrático e historiador, quando com ele falei sobre o assunto, colocou a Padeira de Aljubarrota na classe dos "mitos simpáticos que sublinham muito justamente o importante papel de algumas mulheres na História de Portugal", ao lado, por exemplo, da Maria da Fonte...
Esta série, que hoje termina, saquei-a de um trabalho que escrevi para a revista de fim-de-semana do jornal 24horas, em Março de 2007, introduzindo-lhe as necessárias adaptações temporais e porventura, involuntariamente, alguns erros de transcrição. Era um ranking, "Os 10 maiores mitos da História de Portugal", e, para o fazer, pedi a ajuda de especialistas reputados: Manuela Mendonça, historiadora e presidente da Academia Portuguesa de História, os historiadores e professores catedráticos António Manuel Hespanha, Fernando de Sousa e Francisco Ribeiro da Silva, o escritor e historiador portuense Hélder Pacheco e o arqueólogo e historiador Joel Cleto.
Para além dos dez mais, já vistos, sobrou uma longa e curiosa lista de outros mitos aos quais, por uma unha negra, calhou a rolha de cortiça, também chamada de "menção honrosa"...
A saber: Radicalismo do primeiro liberalismo; Antiguidade do sentido nacional; Fidelidade da coroa à Santa Sé; Igreja espoliada pelo Estado liberal; Natureza fascista do regime de Salazar; País sem sociedade civil, dependente do Estado; Empenhamento da oposição republicana no combate ao analfabetismo; Republicanismo do Porto e do Norte; Cortes de Lamego de 1143; Tratado de Methuen de 1703; Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal); Associações religiosas ou de tendência secretista; Somos um país atrasado; Salazar, o salvador da Pátria; Infante D. Henrique nos Painéis de S. Vicente; Pedro Álvares Cabral; Viriato; Estilo das igrejas medievais românicas; Desembarque dos Bravos do Mindelo; Menires e antas, obra de mouros ou celtas; Imagem de Nossa Senhora de Fátima; Sapateiro de Trancoso; Sousa Martins; Velho do Restelo; O rei das estradas; Corpo incorrupto de D. João II.
(Mais sobre portuguesas de barba rija, num registo completamente diferente, aqui)
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