Foto Hernâni Von Doellinger |
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
terça-feira, 30 de agosto de 2016
Olavo Drummond
Geometria sentimental
Nasci polígono,
Cresci amando,
Como os deuses raros
Bem-amados são...
Continuei sem mando,
Diversificando,
Até me ver hexágono;
E por amar demais
Amanheci pentágono...
De amor tão farto
Adormeci retângulo;
E em dia ingrato
Vi-me feito em ângulo,
De sedutor triângulo...
Pelo convívio,
Pela carícia farta,
Pelo nada fluido,
Que em mim sobrou,
Quis o destino
Dar-me um final tão belo
E fez de tua sina
O meu paralelo...
Conheceste, então,
Este teu poeta:
As linhas firmes
Sobrepostas foram
Para que a vida nossa
Se tornasse reta.
Reta de amor,
Pontas de fogo,
Em resplandecência,
Que no final se unem
Na paixão fechada
Da circunferência...
"Ensaio Geral", Olavo Drummond
(Olavo Drummond nasceu no dia 31 de Agosto de 1925. Morreu em 2006.)
Nasci polígono,
Cresci amando,
Como os deuses raros
Bem-amados são...
Continuei sem mando,
Diversificando,
Até me ver hexágono;
E por amar demais
Amanheci pentágono...
De amor tão farto
Adormeci retângulo;
E em dia ingrato
Vi-me feito em ângulo,
De sedutor triângulo...
Pelo convívio,
Pela carícia farta,
Pelo nada fluido,
Que em mim sobrou,
Quis o destino
Dar-me um final tão belo
E fez de tua sina
O meu paralelo...
Conheceste, então,
Este teu poeta:
As linhas firmes
Sobrepostas foram
Para que a vida nossa
Se tornasse reta.
Reta de amor,
Pontas de fogo,
Em resplandecência,
Que no final se unem
Na paixão fechada
Da circunferência...
"Ensaio Geral", Olavo Drummond
(Olavo Drummond nasceu no dia 31 de Agosto de 1925. Morreu em 2006.)
Dia do Porto de Leixões 2016
Foto Hernâni Von Doellinger |
Um porto de portas abertas a quem o quiser conhecer. Sábado, 17 de Setembro, Dia do Porto de Leixões, das 10 às 18 horas, com entrada livre pelo portão do Molhe Sul, junto à Praia de Matosinhos e ao Senhor do Padrão. Visitas ao Terminal de Cruzeiros e a toda a estrutura portuária, animação de cais com insufláveis, artes performativas e música. Mais informação, aqui.
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
J. M. Pereira da Silva
Os
portugueses, que eram então o povo mais heroico e cavalheiresco da
Europa, começaram a colonizar o Brasil, que, descoberto por um seu
compatriota, era por eles considerado sua propriedade, tanto mais quanto
o reconhecimento do Pontífice Romano a havia sancionado. Tinham porém
que dividir muito sua atenção e seus cuidados. A melhor parte da Ásia
lhes pertencia; reinavam na África, e nas Ilhas do grande Oceano; suas
possessões estendiam-se a perder de vista: seu estandarte tremulava nas
fortalezas de Malaca, de Diu, de Tânger, Ceuta e mil outras cidades
importantes do mundo; seus navios cruzavam todas as costas; suas
esquadras enchiam todos os mares: eles eram povo pouco numeroso, cerrado
seu território entre o Oceano e a Espanha, como poderiam atender e
favorecer muito ao Brasil? Entretanto cumpre dizer, para sermos
imparciais, que, ou pela proximidade em que o Brasil ficava de Portugal,
ou porque descobrissem maiores recursos e riquezas no País, desde logo o
preferiram a todas as suas antigas possessões, e mais prezavam a nova
colônia que aquelas de que até ali tinham tirado grandes riquezas e
proveitos.
Fundaram cidades nas melhores enseadas e costas; aqui elevaram o Rio de Janeiro, acolá Bahia de Todos os Santos e Porto Seguro, ali Belém do Pará, e São Luís do Maranhão, e ao pé do Cabo de Santo Agostinho a bela Recife. À proporção que se foram entranhando pelo interior, formaram estabelecimentos, arraiais e povoações, que, com o andar dos tempos, prosperaram e cresceram.
"Parnaso Brasileiro", J. M. Pereira da Silva
(J. M. Pereira da Silva nasceu no dia 30 de Agosto de 1817. Morreu em 1898.)
Fundaram cidades nas melhores enseadas e costas; aqui elevaram o Rio de Janeiro, acolá Bahia de Todos os Santos e Porto Seguro, ali Belém do Pará, e São Luís do Maranhão, e ao pé do Cabo de Santo Agostinho a bela Recife. À proporção que se foram entranhando pelo interior, formaram estabelecimentos, arraiais e povoações, que, com o andar dos tempos, prosperaram e cresceram.
"Parnaso Brasileiro", J. M. Pereira da Silva
(J. M. Pereira da Silva nasceu no dia 30 de Agosto de 1817. Morreu em 1898.)
Ferreira Leal
Analogia
Entre Elisa e a pimenta
Acho tanta semelhança,
Que quando a moça me tenta,
Vem-me a pimenta à lembrança.
Se a donzela se agonia,
Da fruta assume o rubor;
E para mais analogia
Têm ambas o mesmo ardor.
Quer que uma e outra excite
O destino alterações
A pimenta - no apetite,
Elisa - nos corações.
Afinal, se mais se atenta,
Tanto acordo se divisa,
Que, como Elisa é pimenta,
Também a pimenta é lisa!
Ferreira Leal
(Ferreira Leal nasceu no dia 30 de Agosto de 1850)
Entre Elisa e a pimenta
Acho tanta semelhança,
Que quando a moça me tenta,
Vem-me a pimenta à lembrança.
Se a donzela se agonia,
Da fruta assume o rubor;
E para mais analogia
Têm ambas o mesmo ardor.
Quer que uma e outra excite
O destino alterações
A pimenta - no apetite,
Elisa - nos corações.
Afinal, se mais se atenta,
Tanto acordo se divisa,
Que, como Elisa é pimenta,
Também a pimenta é lisa!
Ferreira Leal
(Ferreira Leal nasceu no dia 30 de Agosto de 1850)
Leandro Carré Alvarellos
As duas amigas
Ben sei que âs nenas gústanvos os contos de encantos; mais os encantos teñen cáseque sempre unha aparencia que abraya e unha realidade que, en conocéndoa, é a cousa mais sinxela da vida.
Esto pasaba antre duas amiguiñas: Ádega e Carmeliña.
Carmeliña tiña un encanto, dicía ela, que lle daba colares, pulseiras, vestidos e ata larpeiradas. Ádega endexamais podía disfroitare de aqueles lilalos, de aquelas lambetadas; porque a sua nai, que era probe, non podía depararllas; e Ádega, que era amiga de Carmeliña, tíñalle por aquela diferencia, por aquel privilexio, un pouquichiño de envexa.
Carmeliña estrenaba un vestido.
-¡Qué vestido lindo trás! - dicíalle Ádega - ¿mercoucho a tua nai? - Non; a miña nai é tan probe como a tua; tróuxomo o meu encanto, repricaba ela rindo.
-¿E cómo é o teu encanto? - perguntoulle unha vez Ádega - ¡Se eu poidera tér outro encanto que me
dera cousas! - sospiróu.
- Podes - díxolle Carmeliña - ; é a cousa mais doada. Eu, cando quero algo, voume para casa, estoume un anaco atenta, sen boligar, e digo:
Meu encanto, meu encanto,
axúdame no que pido,
quero un vestidiño novo;
damo tí, que és meu amigo
e xa que che quero tanto
e ao día seguinte ou pouco mais, aparez o meu vestido novo, ou o que lle pida - e rîu ditosa.
[...]
"Obra Inédita e Esquecida", Leandro Carré Alvarellos
(Leandro Carré Alvarellos nasceu no dia 30 de Agosto de 1888. Morreu em 1976.)
Ben sei que âs nenas gústanvos os contos de encantos; mais os encantos teñen cáseque sempre unha aparencia que abraya e unha realidade que, en conocéndoa, é a cousa mais sinxela da vida.
Esto pasaba antre duas amiguiñas: Ádega e Carmeliña.
Carmeliña tiña un encanto, dicía ela, que lle daba colares, pulseiras, vestidos e ata larpeiradas. Ádega endexamais podía disfroitare de aqueles lilalos, de aquelas lambetadas; porque a sua nai, que era probe, non podía depararllas; e Ádega, que era amiga de Carmeliña, tíñalle por aquela diferencia, por aquel privilexio, un pouquichiño de envexa.
Carmeliña estrenaba un vestido.
-¡Qué vestido lindo trás! - dicíalle Ádega - ¿mercoucho a tua nai? - Non; a miña nai é tan probe como a tua; tróuxomo o meu encanto, repricaba ela rindo.
-¿E cómo é o teu encanto? - perguntoulle unha vez Ádega - ¡Se eu poidera tér outro encanto que me
dera cousas! - sospiróu.
- Podes - díxolle Carmeliña - ; é a cousa mais doada. Eu, cando quero algo, voume para casa, estoume un anaco atenta, sen boligar, e digo:
Meu encanto, meu encanto,
axúdame no que pido,
quero un vestidiño novo;
damo tí, que és meu amigo
e xa que che quero tanto
e ao día seguinte ou pouco mais, aparez o meu vestido novo, ou o que lle pida - e rîu ditosa.
[...]
"Obra Inédita e Esquecida", Leandro Carré Alvarellos
(Leandro Carré Alvarellos nasceu no dia 30 de Agosto de 1888. Morreu em 1976.)
domingo, 28 de agosto de 2016
Apolinário Porto-Alegre 3
O sino
O sino se balança
E lança
Nos espaços a voz,
Que freme
E geme
Ora doce, ora atroz.
Falando à branda brisa,
Que frisa
A lisa tez do mal,
E manso
Remanso
Que convida a cismar.
Falando à ventania
Que alia
Perigos ao terror,
Bimbalha,
Espalha
Seu ingente clamor.
Se tange o triste dobre
Por pobre
Que da vida se alou,
Dolente
Se sente
A mágoa que o passou,
Se em festas se despica,
Repica
Gratos, festivos sons,
E na alma
Espalma
A flor dos ricos dons.
Se a matinas convoca,
Evoca
O canto que seduz,
Que implora,
Na aurora,
A Deus, a eterna luz.
Ao toque das Trindades,
Saudades
Nos peitos faz pungir;
Se abisma
Na cisma
Quem pensa no porvir.
Esta hora que magoa,
Reboa
Bem lá no coração,
Quais notas
Remotas
De tempos que não são.
Quando em negro horizonte
A fronte
Pender-me ao por do sol,
Derrama
A gama
Das aves no arrebol.
Não quero luto e pranto
Que o encanto
Perdera o festival,
Sim, quero
E espero
Alegre funeral.
Saúda a renascença
Da crença
Da vida em novo ser,
E a escala
Badala
Em notas de prazer.
"Flores da Morte", Apolinário Porto-Alegre
(Apolinário Porto-Alegre nasceu no dia 29 de Agosto de 1844. Morreu em 1904.)
O sino se balança
E lança
Nos espaços a voz,
Que freme
E geme
Ora doce, ora atroz.
Falando à branda brisa,
Que frisa
A lisa tez do mal,
E manso
Remanso
Que convida a cismar.
Falando à ventania
Que alia
Perigos ao terror,
Bimbalha,
Espalha
Seu ingente clamor.
Se tange o triste dobre
Por pobre
Que da vida se alou,
Dolente
Se sente
A mágoa que o passou,
Se em festas se despica,
Repica
Gratos, festivos sons,
E na alma
Espalma
A flor dos ricos dons.
Se a matinas convoca,
Evoca
O canto que seduz,
Que implora,
Na aurora,
A Deus, a eterna luz.
Ao toque das Trindades,
Saudades
Nos peitos faz pungir;
Se abisma
Na cisma
Quem pensa no porvir.
Esta hora que magoa,
Reboa
Bem lá no coração,
Quais notas
Remotas
De tempos que não são.
Quando em negro horizonte
A fronte
Pender-me ao por do sol,
Derrama
A gama
Das aves no arrebol.
Não quero luto e pranto
Que o encanto
Perdera o festival,
Sim, quero
E espero
Alegre funeral.
Saúda a renascença
Da crença
Da vida em novo ser,
E a escala
Badala
Em notas de prazer.
"Flores da Morte", Apolinário Porto-Alegre
(Apolinário Porto-Alegre nasceu no dia 29 de Agosto de 1844. Morreu em 1904.)
O salário mínimo de Gianni Infantino
O presidente da FIFA, Gianni Infantino, considera "completamente arbitrários e insultuosos" os salários com se aboletavam os dirigentes do organismo que tutela o futebol mundial antes da sua chegada ao poder. Não sei quanto ganhavam Joseph Blatter e respectiva corja de corruptos. O moralista Infantino vai ganhar por ano, números redondos e segundo diz, "menos que os dois milhões de francos suíços de que muita gente anda a falar". Isto é: cerca de 150 mil euros por mês. Também não está mal.
sábado, 27 de agosto de 2016
Sá de Miranda 4
Desarrezoado amor, dentro em meu peito
Tem guerra com a razão. Amor, que jaz
E já de muitos dias, manda e faz
Tudo o que quer, a torto e a direito.
Não espera razões, tudo é despeito,
Tudo soberba e força, faz, desfaz,
Sem respeito nenhum, e quando em paz
Cuidais que sois, então tudo é desfeito.
Doutra parte, a razão tempos espia,
Espia ocasiões de tarde em tarde,
Que ajunta o tempo; enfim vem o seu dia:
Então não tem lugar certo onde aguarde
Amor; trata traições, que não confia
Nem dos seus. Que farei quando tudo arde?
Sá de Miranda
(Sá de Miranda nasceu no dia 28 de Agosto de 1481. Morreu em 1558.)
Tem guerra com a razão. Amor, que jaz
E já de muitos dias, manda e faz
Tudo o que quer, a torto e a direito.
Não espera razões, tudo é despeito,
Tudo soberba e força, faz, desfaz,
Sem respeito nenhum, e quando em paz
Cuidais que sois, então tudo é desfeito.
Doutra parte, a razão tempos espia,
Espia ocasiões de tarde em tarde,
Que ajunta o tempo; enfim vem o seu dia:
Então não tem lugar certo onde aguarde
Amor; trata traições, que não confia
Nem dos seus. Que farei quando tudo arde?
Sá de Miranda
(Sá de Miranda nasceu no dia 28 de Agosto de 1481. Morreu em 1558.)
Lourenço Diaféria
Nunca deixe seu filho mais confuso que você
De manhã, na copa. O pai mexe o café na xícara. O filho caçula vem da sala, dispara:
- Pai, o que é genitália? O homem volta-se:
- Ge... o quê?
- Genitália.
- Onde é que você tirou isso, da sua cabeça?
- Tá no jornal, pai.
- Genitália, no jornal? Bem, esse assunto não é comigo agora. Já estou atrasado pro trabalho. Cadê sua mãe? Rita! Ritinhaaaaa! Onde é que essa mulher se enfiou? Rita, venha ouvir aqui o que seu filho está aprontando.
Dona Rita desce esbaforida:
- Algum problema, Gervásio?
- Problema nenhum. O garoto está apenas querendo saber o que é genitália. Explique pra ele. Estou de saída.
- Genitália? Eu? Isso é conversa de homem pra homem. Vai dizer que você não sabe?
- Saber eu sei, lógico. Mas há coisas que a gente sabe o que é na teoria, mas fica difícil de explicar na prática.
- Deixa de bobagem.
- Tá bom. Depois, se eu pegar trânsito, quero só ver.
- Pode deixar, pai. Não precisa ficar discutindo você e a mamãe por causa de uma palavra. Eu pergunto pra tia da escola.
- Tá louco? A tia pode pensar mal da gente. Deixa comigo. Presta atenção: genitália é o mesmo que partes pudendas. Genitália é uma coisa muito antiga. Já existia no tempo do seu bisavô. No século passado, quando seu bisavô estava vivo, as pessoas tinham pudor. Elas ocultavam do público certas partes do corpo. Chegavam até ao exagero. As partes que ficavam mais resguardadas formavam, exatamente, a genitália. A genitália eram as partes pudendas.
- O umbigo era genitália, pai?
- Não. Na verdade, não era. Vou tentar explicar melhor. As pessoas tinham vergonha de mostrar o corpo. E uma certa parte do corpo era reservada ao extremo. Não aparecia nem em filme francês. As pessoas chamavam esse território misterioso de vergonhas. Isso é que é a genitália moderna.
- Bumbum é genitália, pai?
- Não. Acho que não estou sendo muito claro. Ritinha, você não quer dar uma mão?
- Não. Assuma.
- Bom, vou pras cabeças. Ahnnn. Hummmm. Abaixe as calças. Mais. Até os tornozelos. Isso. Pronto, tá aí a genitália.
- O umbigo?
- No térreo do umbigo. Que é que você vê embaixo do umbiguinho?
- Pô, pai. Vai dizer que o senhor não sabe o que é isso? É meu bingolim, pai.
- Ta aí. O bingolim é a genitália do homem.
- Genitália.
- Onde é que você tirou isso, da sua cabeça?
- Tá no jornal, pai.
- Genitália, no jornal? Bem, esse assunto não é comigo agora. Já estou atrasado pro trabalho. Cadê sua mãe? Rita! Ritinhaaaaa! Onde é que essa mulher se enfiou? Rita, venha ouvir aqui o que seu filho está aprontando.
Dona Rita desce esbaforida:
- Algum problema, Gervásio?
- Problema nenhum. O garoto está apenas querendo saber o que é genitália. Explique pra ele. Estou de saída.
- Genitália? Eu? Isso é conversa de homem pra homem. Vai dizer que você não sabe?
- Saber eu sei, lógico. Mas há coisas que a gente sabe o que é na teoria, mas fica difícil de explicar na prática.
- Deixa de bobagem.
- Tá bom. Depois, se eu pegar trânsito, quero só ver.
- Pode deixar, pai. Não precisa ficar discutindo você e a mamãe por causa de uma palavra. Eu pergunto pra tia da escola.
- Tá louco? A tia pode pensar mal da gente. Deixa comigo. Presta atenção: genitália é o mesmo que partes pudendas. Genitália é uma coisa muito antiga. Já existia no tempo do seu bisavô. No século passado, quando seu bisavô estava vivo, as pessoas tinham pudor. Elas ocultavam do público certas partes do corpo. Chegavam até ao exagero. As partes que ficavam mais resguardadas formavam, exatamente, a genitália. A genitália eram as partes pudendas.
- O umbigo era genitália, pai?
- Não. Na verdade, não era. Vou tentar explicar melhor. As pessoas tinham vergonha de mostrar o corpo. E uma certa parte do corpo era reservada ao extremo. Não aparecia nem em filme francês. As pessoas chamavam esse território misterioso de vergonhas. Isso é que é a genitália moderna.
- Bumbum é genitália, pai?
- Não. Acho que não estou sendo muito claro. Ritinha, você não quer dar uma mão?
- Não. Assuma.
- Bom, vou pras cabeças. Ahnnn. Hummmm. Abaixe as calças. Mais. Até os tornozelos. Isso. Pronto, tá aí a genitália.
- O umbigo?
- No térreo do umbigo. Que é que você vê embaixo do umbiguinho?
- Pô, pai. Vai dizer que o senhor não sabe o que é isso? É meu bingolim, pai.
- Ta aí. O bingolim é a genitália do homem.
- Puxa, o senhor podia ter falado antes.
- Na vida, às vezes é preciso usar eufemismos. Por exemplo, a genitália da mulher tem um nome delicado, leve, ágil. Sabe o que estou querendo dizer, não sabe? Começa com b.
- Barata da vizinha?
- Não, filho. Borboleta.
- Na vida, às vezes é preciso usar eufemismos. Por exemplo, a genitália da mulher tem um nome delicado, leve, ágil. Sabe o que estou querendo dizer, não sabe? Começa com b.
- Barata da vizinha?
- Não, filho. Borboleta.
"O Invisível Cavalo Voador - Falas Contemporâneas", Lourenço Diaféria
(Lourenço Diaféria nasceu no dia 28 de Agosto de 1933. Morreu em 2008.)
Hermes Fontes
Mãe
Para dizer quem foi a minha mãe, não acho
Uma palavra própria, um pensamento bom.
Diógenes, busco-o em vão, falta-me a luz de um facho
- Se acho som, falta a luz; se acho luz, falta o som!
Uma palavra própria, um pensamento bom.
Diógenes, busco-o em vão, falta-me a luz de um facho
- Se acho som, falta a luz; se acho luz, falta o som!
Teu nome - ó minha mãe - tem o sabor de um cacho
De uvas diáfanas, cor de ouro e pérola, com
Polpa de beijos de anjo... ouvi-lo é ouvir um sacho
Merencóreo, a rezar, no seu eterno tom...
De uvas diáfanas, cor de ouro e pérola, com
Polpa de beijos de anjo... ouvi-lo é ouvir um sacho
Merencóreo, a rezar, no seu eterno tom...
Minha mãe! Minha mãe! Eu não fui qual devera.
Morreste e eu não bebi nos teus lábios de cera
A doçura que as mães, ainda mortas, contêm...
Morreste e eu não bebi nos teus lábios de cera
A doçura que as mães, ainda mortas, contêm...
Ao pé de nossas mães, todos nós somos crentes...
Um filho que tem mãe, tem todos os parentes...
E eu não tenho por mim, ó minha mãe, ninguém!
Um filho que tem mãe, tem todos os parentes...
E eu não tenho por mim, ó minha mãe, ninguém!
Hermes Fontes
(Hermes Fontes nasceu no dia 28 de agosto de 1888. Morreu em 1930.)
Teixeira de Melo
Esquecimento
Quando eu cair cansado da romagem,
Uma ave só não quebrará seus cantos;
Ninguém meu leito há de juncar de flores
Nem o pó de meus pés lavar com prantos.
Quando eu lançar dos ombros já dormentes
Quando eu cair cansado da romagem,
Uma ave só não quebrará seus cantos;
Ninguém meu leito há de juncar de flores
Nem o pó de meus pés lavar com prantos.
Quando eu lançar dos ombros já dormentes
O
roto manto dum viver sem glória,
Ninguém meu berço embalará chorando,
Quem do meu nome guardará memória?!
Por mim, que a vida atravessei cantando,
Ninguém meu berço embalará chorando,
Quem do meu nome guardará memória?!
Por mim, que a vida atravessei cantando,
Por
mim, que o mundo chamará de louco,
Ninguém um riso apagará dos lábios.
Dos lábios, onde a dor dura tão pouco!
Eu fui na terra o eco do abandono!
Ninguém um riso apagará dos lábios.
Dos lábios, onde a dor dura tão pouco!
Eu fui na terra o eco do abandono!
Fui
astro errante e de emprestado brilho!
Não descobri nos ermos da romagem
Um marco, um só!, que me ensinasse o trilho!
Cantei; mas foi meu canto o som convulso
Não descobri nos ermos da romagem
Um marco, um só!, que me ensinasse o trilho!
Cantei; mas foi meu canto o som convulso
Do
regougo do mar nas tempestades!
Sonhei como Gonzaga, amei como ele,
E deixo a vida sem deixar saudades.
Folha de um ramo desgrenhado à tarde
Sonhei como Gonzaga, amei como ele,
E deixo a vida sem deixar saudades.
Folha de um ramo desgrenhado à tarde
- Despregada no inverno e solta ao vento -
Fui tanta vez também rolar por ermos,
Seguindo sempre o mesmo pensamento.
Amei a infância na mulher que amara,
Fui tanta vez também rolar por ermos,
Seguindo sempre o mesmo pensamento.
Amei a infância na mulher que amara,
De
olhar de fogo e coração de gelo.
Dormi com crenças, acordei descrido;
Prendi a vida a um longo pesadelo.
Passei na terra - como à flor dos mares
Dormi com crenças, acordei descrido;
Prendi a vida a um longo pesadelo.
Passei na terra - como à flor dos mares
Num
céu de bronze um bando de andorinhas;
Elas gemem talvez, gemi como elas;
Mas ninguém escutou as queixas minhas.
Vaguei comigo só pela existência,
Elas gemem talvez, gemi como elas;
Mas ninguém escutou as queixas minhas.
Vaguei comigo só pela existência,
Fitos
debalde os olhos no caminho,
Sem uns laivos de amor e de verdade
Nem ninguém, meu Deus!, sempre sozinho.
Quero agora em frouxel, à beira d´água,
Sem uns laivos de amor e de verdade
Nem ninguém, meu Deus!, sempre sozinho.
Quero agora em frouxel, à beira d´água,
Onde
o canto do mar me embale a medo,
Descansar da romagem no deserto,
Como um riacho à sombra do arvoredo.
Não tem dobre o finado em leito estranho
Descansar da romagem no deserto,
Como um riacho à sombra do arvoredo.
Não tem dobre o finado em leito estranho
Nem
letreiro nem cruz nem pedra - embora!
Por ínvia solidão, sem musgo, à sombra,
Posso, como vivi, dormir agora!
Que noite vou passar - amadornado
Por ínvia solidão, sem musgo, à sombra,
Posso, como vivi, dormir agora!
Que noite vou passar - amadornado
No
seio imenso e nu da eternidade!!
Talvez lá venha iluminar-me os sonhos
Uma réstia de luz e de verdade!
A dois passos de mim lá corre a louca
Talvez lá venha iluminar-me os sonhos
Uma réstia de luz e de verdade!
A dois passos de mim lá corre a louca
Ao
mar da eternidade em que se lança!
Rio de lodo, quis sondar-te em seios
Que há de em pouco esconder minha lembrança.
Magdalena gentil, eu te amo tanto!
Rio de lodo, quis sondar-te em seios
Que há de em pouco esconder minha lembrança.
Magdalena gentil, eu te amo tanto!
Contigo sonho em noites
de abandono,
Contigo acordo e nutro-me de insônias,
Até que em teu regaço eu tenho sono!
Em que lençol vais embrulhar meus ossos,
Contigo acordo e nutro-me de insônias,
Até que em teu regaço eu tenho sono!
Em que lençol vais embrulhar meus ossos,
Quando eu mudar de pó e
isolamento!
Dura verdade que aprendi comigo: -
Pesa mais que a mortalha - o esquecimento!
Dura verdade que aprendi comigo: -
Pesa mais que a mortalha - o esquecimento!
Teixeira de Melo
(Teixeira de Melo nasceu no dia 28 de Agosto de 1833. Morreu em 1907.)
sexta-feira, 26 de agosto de 2016
Florencio Delgado Gurriarán 2
Ahí ven o Maio
Ahí ven o Maio pola porta do xardín,
ahí ven o maio de enterrar ao pai Abril,
(O Maio garrido cansiño de chorar,
enxoitou o seu pranto con panos de luar).
Ahí ven o Maio pola porta da campía
ahí ven o maio, galán da cotovía,
(O Maio garrido tiña un cambai brunedo,
o sol espafarrapóullo côs seus dourados dedos).
Ahí ven o Maio pola porta da debesa,
ahí ven o Maio côs seus brincos de cireixas.
(O Maio garrido anda a bebelos ventos
pola terra, rapaza de doces arrecendos).
Ahí ven o Maio pola porta do soutelo,
ahí ven o Maio có seu colete amarelo.
(O Maio garrido, nos intres de vagar,
có mestre rouxinol adeprende a cantar.
Ahí ven o Maio pola porta do valado,
ahí ven o Maio cô seu traxiño branco.
(O Maio garrido, para saudar o vran,
pon luvas de etiqueta con frores de S. Xoán).
Ahí ven o Maio. ¡Ábrelle as portas, moza,
que trai, por gorentarte, caraveles e rosas!
Alí ven o Maio,
Maíño, Maiolo;
na verde camisa
botois de amerodos;
monteira frorida,
a roupa das festas;
e un caraveliño
por riba da orella;
pieites de silveiras
pieitanlle o cabelo,
anda a namorare
coma un mozo cedo.
"Cantarenas. Poemas 1934-1980", Florencio Delgado Gurriarán
(Florencio Delgado Gurriarán nasceu no dia 27 de Agosto de 1903. Morreu em 1987.)
Ahí ven o Maio pola porta do xardín,
ahí ven o maio de enterrar ao pai Abril,
(O Maio garrido cansiño de chorar,
enxoitou o seu pranto con panos de luar).
Ahí ven o Maio pola porta da campía
ahí ven o maio, galán da cotovía,
(O Maio garrido tiña un cambai brunedo,
o sol espafarrapóullo côs seus dourados dedos).
Ahí ven o Maio pola porta da debesa,
ahí ven o Maio côs seus brincos de cireixas.
(O Maio garrido anda a bebelos ventos
pola terra, rapaza de doces arrecendos).
Ahí ven o Maio pola porta do soutelo,
ahí ven o Maio có seu colete amarelo.
(O Maio garrido, nos intres de vagar,
có mestre rouxinol adeprende a cantar.
Ahí ven o Maio pola porta do valado,
ahí ven o Maio cô seu traxiño branco.
(O Maio garrido, para saudar o vran,
pon luvas de etiqueta con frores de S. Xoán).
Ahí ven o Maio. ¡Ábrelle as portas, moza,
que trai, por gorentarte, caraveles e rosas!
Alí ven o Maio,
Maíño, Maiolo;
na verde camisa
botois de amerodos;
monteira frorida,
a roupa das festas;
e un caraveliño
por riba da orella;
pieites de silveiras
pieitanlle o cabelo,
anda a namorare
coma un mozo cedo.
"Cantarenas. Poemas 1934-1980", Florencio Delgado Gurriarán
(Florencio Delgado Gurriarán nasceu no dia 27 de Agosto de 1903. Morreu em 1987.)
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Igreja reúne-se de emergência
"A Igreja vai reunir-se de emergência na segunda-feira, em Fátima", avisa o JN. Não sei se é verdade, mas, a ser, é preciso tomar nota: em Fátima evidentemente, e de emergência. E por que razão reúne a Igreja portuguesa, de emergência, em Fátima? Por causa da pedofilia interna? Não. Por causa da fome externa? Não. Por causa da pobreza geral? Não. Por causa do desemprego dos outros? Não. Por causa da crise de vocações sacerdotais? Não. Por causa da falta de povo e de fé nas igrejas e nas procissões? Não. Por causa do burquíni? Não. Por causa dos incêndios de Verão? Não. Por causa do terramoto em Itália? Não. Por causa dos atentados na Turquia? Não. Por causa da guerra na Síria? Não, não e não. "A Igreja vai reunir-se de emergência na segunda-feira, em Fátima, para decidir a resposta a enviar ao Estado, que recentemente notificou a maioria das 4376 paróquias a nível nacional para pagarem imposto municipal sobre imóveis dos seus edifícios e terrenos."
Onomástico 9
António Ferreira das Neves
Ribeiro Magalhães Alvão
Gonçalves Antunes Esteves
Lopes Teles Sebastião.
(2016)
Ribeiro Magalhães Alvão
Gonçalves Antunes Esteves
Lopes Teles Sebastião.
(2016)
quinta-feira, 25 de agosto de 2016
A santidade, segundo Truman Capote
Não sou um santo. Sou um alcoólatra, um drogado, um homossexual e um génio. Certamente poderia ter sido todas essas quatro coisas e mesmo assim ser um santo.
Truman Capote
(Truman Capote morreu no dia 25 de Agosto de 1984)
Truman Capote
(Truman Capote morreu no dia 25 de Agosto de 1984)
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
O melhor actor do mundo
A conversa já tem alguns anos. Ao balcão do salão de bilhares, o empregado do bar e alguns clientes ligados à famosa "segurança da noite" discutem animadamente sobre uma questão fundamental: quem é o melhor actor do mundo - Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger ou Jean-Claude Van Damme? E eu, ao lado, penso: evidentemente esqueceram-se do Steven Seagal e do Chuck Norris...
terça-feira, 23 de agosto de 2016
Paulo Leminski 2
Bem no fundo
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela - silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
Paulo Leminski
(Paulo Leminski nasceu no dia 24 de Agosto de 1944. Morreu em 1989.)
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela - silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
Paulo Leminski
(Paulo Leminski nasceu no dia 24 de Agosto de 1944. Morreu em 1989.)
Carlos Casares
No pouco tempo durante o cal puiden ver o corpo espido de Carlos, morto e tirado na bañeira, antes de que Arturo me sacase pola forza do cuarto de baño, pareceume que da parte dereita da cabeza do cadáver, á altura da tempa, penduraba un cacho pequeno de óso esmigallado en anacos minúsculos e afiados, igual que se fosen os fragmentos da casca dunha noz que se acabase de partir. Desde aquela noite, o estoupido da pistola que acabou coa vida de Carlos asocieino con esa imaxe, non polo ruído da arma en si, senón porque me parecía que o cranio, ó ser rebentado pola bala, rachara daquela mesma maneira.
"O Sol do Verán", Carlos Casares
(Carlos Casares nasceu no dia 24 de Agosto de 1941. Morreu em 2002.)
A canção do africano
Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão...
De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!
"Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!
"O sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!
"Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar ...
"Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro".
O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!
............................
O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.
E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!
Castro Alves, "Os Escravos"
P.S. - Hoje, 23 de Agosto, é Dia Internacional de Lembrança do Tráfico de Escravos e sua Abolição.
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão...
De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!
"Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!
"O sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!
"Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar ...
"Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro".
O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!
............................
O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.
E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!
Castro Alves, "Os Escravos"
P.S. - Hoje, 23 de Agosto, é Dia Internacional de Lembrança do Tráfico de Escravos e sua Abolição.
segunda-feira, 22 de agosto de 2016
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