sábado, 27 de agosto de 2016

Hermes Fontes

Mãe 

Para dizer quem foi a minha mãe, não acho
Uma palavra própria, um pensamento bom.
Diógenes, busco-o em vão, falta-me a luz de um facho
- Se acho som, falta a luz; se acho luz, falta o som!

Teu nome - ó minha mãe - tem o sabor de um cacho
De uvas diáfanas, cor de ouro e pérola, com
Polpa de beijos de anjo... ouvi-lo é ouvir um sacho
Merencóreo, a rezar, no seu eterno tom...

Minha mãe! Minha mãe! Eu não fui qual devera.
Morreste e eu não bebi nos teus lábios de cera
A doçura que as mães, ainda mortas, contêm...

Ao pé de nossas mães, todos nós somos crentes...
Um filho que tem mãe, tem todos os parentes...

E eu não tenho por mim, ó minha mãe, ninguém!

Hermes Fontes

(Hermes Fontes nasceu no dia 28 de agosto de 1888. Morreu em 1930.)

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