Matosinhos à tarde. Sol que era um consolo. O casal descia a rua, a minha, em direcção ao mar, puxado pela trela do pequeno cocker. Eis senão quando, porventura desarranjado pelo strogonoff de vitela e leite-creme do almoço, o aflito canídeo arriou as calças e cagou ali mesmo em pleno passeio, com evidente alívio pessoal e grande satisfação dos babados papás. Acabada a obra, a madama, higiene e civismo acima de tudo, foi à carteira e retirou um lenço de papel de um branco imaculado, abriu-o, ao lenço casto, e voltou a dobrá-lo, liturgicamente, agora apenas em dois, baixou-se, quase que me pareceu que se benzia, e... limpou o cu ao cão. Depois amarrotou o papel e lançou-o para junto do saralhoto. No meio do passeio. Do meu. E lá seguiram os três para o mar e para o sol, dois deles puxados pela trela.
A autarquia agradece. Faz colecção. No brasão de Lisboa figuram corvos, no de Matosinhos deveriam desenhar saralhotos.
(Texto escrito e publicado mais ou menos assim, com este mesmo título, no dia 30 de Outubro de 2011. Há bocado vi outra vez e portanto. Matosinhos, para além das muitas outras coisas muito boas, é isto: não há passeios que cheguem para tanta merda de cão. E não é só Matosinhos, embora Matosinhos abuse. E a culpa não é do cão.)
Posso imaginar que o lencinho com que limpou o cu ao cão fosse perfumado. Já o resto, para ela, ou eles, o teu passeio é cagadeira para cão.
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