segunda-feira, 23 de maio de 2016

Ferreira de Castro 4

- E que é que eu vou lá fazer, tio?
Macedo embaraçou-se:
- Tu vais... Sim, eu já disse que o homem prefere cearenses... Foi difícil arranjar... Eu bem queria que tu fosses como empregado. Mas ele disse que para já, não; que depois se via; que o que precisava era de seringueiros...
- Ah, eu vou, então, extrair borracha?
- Por um tempo... Até te arranjarem lá coisa melhor. Eu recomendei-te bem!
E, temendo um súbito desânimo, consolou:
- Mas não te aflijas por isso! Depois de lá estares e de verem de quanto és capaz, estou certo de que te arranjam coisa melhor. Demais a mais, muitos donos de seringal começaram por seringueiros. Quantos tenho eu conhecido aqui! A questão é uma pessoa ter sorte e esperteza! O diabo não é tão feio como o pintam. É verdade: quantos anos tens agora?
- Vinte e seis.
- Vinte e seis? Foi isso mesmo que eu lhe disse. Mas como não tinha bem a certeza... Vinte e seis! Estás uma criança! Podes ter um grande futuro. Aquilo são terras para a gente ir com essa idade, quando se é novo...
Alberto quedou-se resignado, silencioso, com os olhos fixos no velho sofá. Depois:
- Quando é a partida?
- É amanhã à noite, no "Justo Chermont". Tinhas alguma coisa a fazer?
- Não. Nada... Perguntei por perguntar.


"A Selva", Ferreira de Castro

(Ferreira de Castro nasceu no dia 24 de Maio de 1898. Morreu em 1974.)

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