Manuel Monteiro de Castro, português, 73 anos, é um dos 22 novos cardeais aos quais Bento XVI, alemão, 84 anos, entregará hoje os anéis e os barretes da ordem. Os "novos" cardeais são sempre velhos, grandes barretes! Depois, uns levam a velhice a sério - "velhos e tolos", como me ensinou a minha mãe -, e outros, muito raros, graças a Deus nem por isso. O nosso novo velho cardeal é de uma seriedade a toda a prova.
Demonstrou-o ainda ontem, em duas-entrevistas-duas, ao Correio da Manhã e ao Jornal de Notícias. Basicamente (e nunca o termo terá sido empregue com tanta propriedade), Monteiro de Castro defende que o Governo deveria apoiar mais as famílias, para que a mulher pudesse ficar em casa e "aplicar-se naquilo em que a sua função é essencial, a educação dos filhos".
"O trabalho da mulher a tempo completo, creio que não é útil ao país. Trabalhar em casa sim, mas que tenham de trabalhar de manhã até à noite, creio que para um país é negativo", diz o novo velho cardeal. Que desenvolve, para que não restem dúvidas: "A mulher perdeu muito do valor que tinha. Tem muito valor num sentido mas noutro… Um país depende muito, muito das mães, pois é ela que forma os filhos. Não há melhor educadora que a mãe. Mas se a mãe tem de trabalhar pela manhã e pela noite e depois chega a casa e o marido quer falar com ela e não tem com quem falar…"
Sempre achei um piadão ao que os clérigos da Igreja Católica pensam que sabem acerca de casamento, de mulheres e de filhos, logo eles que alegadamente não praticam. Tenho alguns amigos padres e até já me ofereci para ser eu, em vez deles, a dar conselhos aos noivos nas cerimónias matrimoniais. Afinal, estou casado há 31 anos sem tirar fora, eu é que percebo da poda!
A Manuel Monteiro de Castro relevo-lhe, no entanto, o deslize. Se calhar, foi assim: na melhor das intenções, o nosso novo velho cardeal aparafusou o anel, vestiu-se da cabeça aos pés de vermelho escarlate e rendas brancas, remirou-se ao espelho e, perante o que viu, ajuizou-se competente para palpitar sobre assunto de saias. Pura ilusão. Mas que barrete!
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