O aviso andou por aí pichado pelas paredes, uns tempos depois de Abril e com os mais reles intuitos de ataque pessoal, naquela insensatez própria das pós-revoluções: "Cuidado com as carteiras". E tornou a aparecer agora, mas para inglês ver, no sítio oficial do Manchester City na Internet, e num descarado insulto à cidade do Porto.
Na próxima quinta-feira joga-se no Estádio do Dragão o FC Porto-Manchester City, para a Liga Europa, e o clube inglês resolveu alertar os seus adeptos para os perigos que os esperam se arriscarem viajar até à Invicta: "Estejam vigilantes. Carteiristas operam em zonas turísticas, transportes públicos e nas proximidades do Estádio. Por isso, nunca tirem os olhos dos vossos pertences".
Sabem do que falam estes bifes, professores de carteirismo e de outras manigâncias (e Dickens sem culpa nenhuma). Sabem do que falam estes bifes, inventores do hooliganismo e reintrodutores do racismo no futebol. Sabem do que falam estes bifes, bêbados que até se esquecem de ir ao estádio para ficarem ainda mais bêbados e então, já com dupla visão, poderem enfim dispensar um par de olhos que tome conta a tempo inteiro dos respectivos "pertences". Eles sabem do que falam.
E têm razão. Há carteiristas no Porto. Há sapateiros, poetas, juízes, peixeiras, chulos, alfaiates, taxistas, políticos, sem-abrigo, arquitectos, putas, padres, ardinas, cauteleiros, bicheiros, mortos-vivos, ricos, remediados, metalúrgicos, empresários, desempregados, engraxadores, graxistas, jornalistas, jornaleiros, polícias, pederastas, heróis, santos, cobardes, filhos de puta, cozinheiros, pintores, ingleses, floristas, médicos, cangalheiros, bispos, cavalos, peões, drag queens, fadistas, fatalistas, onzeneiros, azeiteiros, génios, beneméritos, bandidos, moinas, turistas, autocarros, estádios e... carteiristas. No Porto há de tudo, até farmacêuticos. E o Porto é uma cidade tão perigosa como qualquer outra cidade por esse mundo fora, com excepção de Manchester, que está no top das cidades mais perigosas do Reino Unido.
O Porto é um boi manso, valha-me Deus, não faz mal a ninguém! Fossem os do City a Lisboa, passeassem eles pelas imediações dos palácios de São Bento e de Belém, e quando dessem fé já lhes tinham sacado os subsídios de férias e de Natal...
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