segunda-feira, 6 de março de 2017

As 10 caras mais emblemáticas da RTP (3)

Carlos Cruz, Júlio Isidro, Fernando Pessa, Maria Elisa, Fialho Gouveia, José Rodrigues dos Santos, Raul Solnado, Judite de Sousa, José Hermano Saraiva e Vitorino Nemésio. Há dez anos, quando a RTP e os portugueses celebravam as suas bodas de ouro, estas foram consideradas "as 10 caras mais emblemáticas da RTP", numa espécie que ranking que me mandaram fazer para a revista do jornal 24horas. A escolha não foi minha - quem era (sou) eu para tanto? -, limitei-me a coligir opiniões eventualmente entendidas.
Os eleitos: personalidades da informação à comédia, da cultura ao entretenimento. Os rostos de quem verdadeiramente fez história em Portugal, sendo-nos de casa, gente das nossas vidas, desde os tempos a preto e branco. E não sei se hoje, nos 60 anos da televisão pública e tão a cores, a selecção poderia ser diferente...
Vamos hoje aos quatro que faltam.

Foto VIP
Raul Solnado
Verdadeiro artista da rádio, TV e disco, Raul Solnado mostrou todo o seu esplendor de humorista, actor e apresentador em programas de colecção como Zip Zip, com Carlos Cruz e Fialho Gouveia, A Visita da Cornélia e O Resto São Cantigas.
O Zip, em 1969, constitui-se como uma autêntica pedrada no charco do cinzento panorama televisivo português.
Representados por Solnado, bonecos como "O Homem da Bandeira", "O Badaleiro" ou "Fritz, o Turista Alemão" anunciaram uma nova maneira de fazer humor em Portugal.
Em 2007, Emídio Rangel colocava Raul Solnado na restrita lista das "figuras incontornáveis que fizeram, ao longo dos anos, a imagem da RTP". Solnado teve também na RTP uma temporada de pequenas crónicas, no final das quais costumava deixar uma enternecedora despedida aos seus telespectadores, que éramos todos: "E façam o favor de ser felizes"...
Raul Solnado morreu em 2009, aos 79 anos.

Foto PARANÓIAS
Judite de Sousa
"Sou a jornalista mais antiga da RTP". Foi assim que Judite de Sousa se me definiu, em 2007, recordando uma carreira que começara há 25 anos, tinha ela 18. "A minha história profissional apenas se cruza com a RTP e a história da minha vida acaba por ter um percurso coincidente. Fiz-me jornalista e mulher nesta casa", dizia-me então.
Pivô de telejornais ou de especiais informativos, ao tempo anfitriã das Notas Soltas de António Vitorino, às segundas-feiras, Judite de Sousa contava que se sentia como peixe na água na sua "Grande Entrevista", às quintas, onde terçava armas com os maiores nomes de Portugal e do mundo. "É um programa que tem muita visibilidade, que está em antena há cerca de dez anos e por onde passou quase toda a gente", fazia notar. Mas a sua grande paixão era a reportagem. Como quando, em 1994, esteve na fronteira do Zaire com o Ruanda. "Todos os dias tropeçava em dezenas de mortos. É uma imagem que me acompanha e acompanhará para sempre".
Judite de Sousa deixou a RTP em 2011. Está na TVI.

Foto RTP
José Hermano Saraiva
O humorista Nilton dizia-me que "nem o Google sabia tanto de História" como José Hermano Saraiva, esse fenómeno de popularidade em Portugal e em todo o mundo onde se falasse e ouvisse português. Os programas de Hermano Saraiva na RTP - O Tempo e a Alma, A Alma e a Gente e Horizontes da Memória - foram, durante anos e anos, a missinha das oito de muito e bom povo.
Jurista de formação e historiador por vocação, ex-ministro de Salazar e antigo embaixador de Portugal no Brasil, José Hermano Saraiva era uma figura polémica. Os que não gostavam dele criticavam-lhe uma certa visão fantasista da História e o facto de não possuir qualquer grau académico superior nesta área do saber. Os seus defensores preferiam enfatizar as suas inegáveis capacidades de comunicador e de divulgador cultural junto das camadas menos instruídas da população. Alheio a estas guerras do alecrim e da manjerona, Saraiva continuava a ser uma presença assídua, entusiasta e apareciada na TV. Ia nos 87 anos, mas não foi ainda aí que parou...
José Hernano Saraiva morreu em 2012, com 92 anos.

Foto COMUM
Vitorino Nemésio
É um dos heróis dos gloriosos tempos do preto e branco. Professor, ficcionista, poeta, cronista, ensaísta, biógrafo, historiador, jornalista e investigador, Vitorino Nemésio revelou-se também um comunicador televisivo de mão-cheia.
De 1969 a 1975, num estilo muito próprio, quase de conversa de café, o seu Se Bem me Lembro tornou-se um êxito popular junto de um público socialmente transversal e que o ouvia deliciado. A cultura e o conhecimento entravam assim pelas casas dentro, de uma forma simples, cativante e com sotaque ilhéu.
No tempo em que não havia medições de audiências, como me fazia notar Emídio Rangel, Nemésio brilhava sobretudo pelo saber e pelo saber dizer, muito mais do que pela (inexistente) qualidade técnica da sua presença no pequeno ecrã. "É daquelas caras que marcaram uma época na RTP. Faz parte do percurso histórico da estação", vincava Rangel.
Natural da Terceira, Açores, Vitorino Nemésio morreu no dia 20 de Fevereiro de 1978, em Lisboa. Contava 77 anos de idade. Quando ao excelentíssimo Se Bem me Lembro, desapareceu até da RTP Memória...

(Fim)

Sem comentários:

Enviar um comentário