segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A minha avó era uma santa, mas fazia por disfarçar

A minha bó de Basto tinha uma sociedade infalível com São Bento da Porta Aberta. Em questões de pele e outras coisas ruins, os dois juntos eram uma limpeza.
1 - Aí pelos meus vintes, eu tinha uma plantação de cravos no braço direito, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha querida avó Emília ia a pé, pequerricha e já velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro. Os cravos desapareceram.
2 - Anos depois, o meu filho era criança e apareceu-lhe um cravo numa pálpebra, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha doce avó Emília ia a pé, ainda mais pequerricha e ainda mais velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro. O cravo desapareceu.
3 - Se eu puxasse pela cabeça, tenho a certeza de que me lembrava de um terceiro e definitivo milagre da minha avó para fechar o dossiê junto à Congregação paras as Causas dos Santos, que já foi nossa, mas não quero arranjar chatices ao Vaticano.

O Vaticano tem muito mais que fazer do que ocupar-se com a comezinha história da minha bó de Basto, que, cada vez mais velhinha e pequerricha, ia a pé entender-se com São Bentinho sempre que era preciso, peregrinando quarenta quilómetros como quem atravessa a rua, e com resultados que estão à vista. O Vaticano tem coisas muito mais importantes a tratar: por exemplo, convencer-me de que João Paulo II ou Madre Teresa de Calcutá são santos. Vai levar anos, muitos anos, e eu não acredito...

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