A minha bó de Basto tinha uma sociedade infalível com São Bento da
Porta Aberta. Em questões de pele e outras coisas ruins, os dois juntos eram uma limpeza.
1 - Aí pelos meus vintes, eu tinha uma plantação de cravos no
braço direito, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia
falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São
Bentinho, a minha querida avó Emília ia a pé, pequerricha e já velhinha, desde
Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro. Os cravos desapareceram.
2 - Anos depois, o meu filho era criança e apareceu-lhe um cravo numa
pálpebra, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia
falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São
Bentinho, a minha doce avó Emília ia a pé, ainda mais pequerricha e
ainda mais velhinha, desde
Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro. O cravo
desapareceu.
3 - Se eu puxasse pela cabeça, tenho a certeza de que me lembrava de um
terceiro e definitivo milagre da minha avó para fechar o dossiê junto à Congregação paras as Causas dos Santos, que já foi nossa, mas não quero arranjar chatices ao Vaticano.
O Vaticano tem muito mais que fazer do que ocupar-se com a comezinha
história da minha bó de Basto, que, cada vez mais velhinha e
pequerricha, ia a pé entender-se com São Bentinho sempre que era
preciso, peregrinando quarenta quilómetros como quem atravessa a rua, e com resultados que estão à vista. O Vaticano tem coisas muito mais importantes a tratar: por
exemplo, convencer-me de que João Paulo II ou Madre Teresa de Calcutá são santos. Vai levar anos, muitos anos, e
eu não acredito...
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