quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Um país de filhos da mãe

Uma mão lava a outra
Uma mão lava a outra. E as duas lavam os pés. E lavam as pernas e os braços e os sovacos e a barriga e as costas e os tomates e ilhas adjacentes e o pescoço e as orelhas e a cara e o cabelo ou a careca. É. Uma mão lava a outra. 

É muito triste ser órfão
O banqueiro corrupto e multimilionário ficou órfão aos 73 anos. Disseram-lhe: "Quem não tem mãe não tem nada". Ligou logo para a Suíça.

Filho da mãe
Era filho da mãe todos os dias. Mas num dia em especial, uma vez por ano, fazia questão.

Mãe há só uma
Chamavam-lhe filho desta e daquela, filho de muitas mães. Ele defendia-se: - Mãe há só uma...

É tudo um questão de perspectiva
"Visto de fora, Portugal é moderadamente corrupto", dizia o jornal de referência. Mas visto por dentro está podre, contrapunha Quitério, que, por outro lado, gostou muito da palavra escolhida - moderadamente. "Quer-se dizer - explicava -, para quem nos vê ao longe, somos um país de razoáveis vigaristas, uma pátria de trafulhas assim-assim. Até é amoroso, não é?..."

Aldrabons e aldramaus
Por que razão medram tanto os aldrabões em Portugal? Por que razão vamos a votos e damos a mama aos aldrabões, de variada cor, e há mais de quarenta anos, como se por acaso acreditássemos neles - nos aldrabões? Os aldrabões que antes e/ou depois estão nos bancos, nas edepês, nas caixas, nas renes, nas cepês, nas referes, nas misericórdias, nos metros, nos centímetros, nas construtoras, nas destrutoras, nos superescritórios de advogados, nos supermercados de escravos, nas fundações, nas afundações, nas jotas, nas motas, nas assessorias, nas tias, nas televisões e nos jornais, no parlamento, na moinice enfim, e têm do povo uma vaga ideia. Por que razão?
Andava com esta dúvida fisgada nem sei há que tempos, mas ontem tive a inesperada revelação, quase sem querer, ao ouvir um minhoto retinto a falar. O homem antigo falava de não sei quem e chamava-lhe aldrabom. Aldrabom. Os minhotos de cá de baixo falamos assim (e eu até tenho uma certa vaidade na nossa maneira de falar), trocamos o ão pelo om, daí a confusom, e se calhar acreditamo-nos: ora aí está um aldra que é bom, pensamos na melhor das intenções e caímos na esparrela. Porque aí é que a porca torce o rabo: eles não são aldrabons - são aldramaus.

Ponto de honra
Licenciou-se. Fez três mestrados, uma pós-graduação, uma pós-produção e uma pós-tulação. Arranjou trabalho num call center. O pai, preocupava-o o pai: certamente desiludira o cota. O cota dizia-lhe que não: - Meu filho, qualquer emprego é bom e digno desde que seja honesto. Ainda que assaltes bancos ou roubes velhinhas, se o fizeres honestamente, serás sempre o meu orgulho.

O Legislador
Acabam o curso de Direito e vão logo à televisão dizer que são juristas. Saltam para o Parlamento e intitulam-se legisladores. Todos juntos, metidos na mesma panela, são O Legislador - como tanto gostam de etiquetar-se. E nós estamos bem servidos... 

Austeridade e corrupção
Quer-se dizer. No fundo, estamos todos lixados. Lá em cima é que não.

P.S. - Hoje, 9 de Dezembro, é Dia Internacional Contra a Corrupção.

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