quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Grandes, pequenas e remediadas superfícies

Faltava-lhe a cedilha
Já compraram bolinhos de bacalhau, assim chamados, numa, por assim dizer, grande superfície? Já, eu sei. Depois de fritos os alegados bolinhos de bacalhau, deitaram-nos fora, não foi? Evidentemente...

Aqui atrasado fui a um supermercado e comprei uma alheira. Como acontece tantas vezes a muito boa gente, trouxe para casa um dois-em-um: a alheira e um grandessíssimo barrete. E reclamei. Reclamei para o fabricante, reclamei para a cadeia de supermercados, reclamei até para o provedor do cliente do grupo económico dono da cadeia de supermercados. Todos me responderam, com mais ou menos demora e as tretas do costume.
O primeiro a bater com a mão no peito até foi o fabricante. Para além de um simpático pedido de desculpas, oferecia-se para me enviar uma nova alheira: imaginei que me mandaria pelo menos meia dúzia, todas elas de qualidade cinco estrelas, mas não aceitei. Eu só queria mesmo reclamar, porque reclamar é bom, desopila.
A quem puder interessar, para futuras demandas, ou, quem sabe, até para fazer jurisprudência, aqui deixo, humildemente, o teor da minha bem sucedida reclamação:

Exm.ºs Senhores,
Comprei ontem na loja do [...], em [...], uma alegada "Alheira de Caça" produzida por V. Ex.ªs e pomposamente apresentada como "produto seleccionado da Terra Fria Transmontana".
A etiqueta prometia uma alheira com, nomeadamente, 40% de carne de caça (pato, perdiz e coelho), 30% de carne de porco e 20% de pão trigo.
Cozinhada e aberta, verifiquei logo, sem precisar de ir ao microscópio, que fora enganado. Carne... de grilo! Assim a olho - e comprovado na boca! - , a alheira era afinal composta por 90% de pão e 10% de gorduras diversas.
Dito de outra forma: a alheira de caça de V. Ex.ªs não trazia cedilha.

Melhores cumprimentos,
h.

A geração do hambúrguer
Um dos maiores problemas dos nossos supermercados é que põem a cortar bacalhau uma malta muito gira e muito porreira que nunca na vida comeu bacalhau e nem sabe de que árvore é que aquilo vem. Resultado: trazemos para casa postas de bacalhau com as dimensões de um selo dos correios...

Comédia em um acto
Matosinhos. No supermercado. O casal, a rondar os 65 anos, estuda a prateleira dos vinhos. Ele, de cabelo preto obviamente pintado, escolhe uma garrafa e lê e explica à mulher o contra-rótulo, com o ar mais entendido do mundo. É aquela. Levam. Chegam à caixa e o homem assusta-se quando percebe que a garrafa custa 2,99 euros. "Mais um euro do que o preço antigo, não pode ser". Mas felizmente tinha percebido mal: são "apenas" 2,10 euros, explica-lhe a funcionária, "só subiu 11 cêntimos".
"Dá-me para seis refeições", diz o homem para a fila que tinha atrás, tentando justificar a fortuna que ali larga. Um cliente ainda mais velho aproveita a deixa. Tem para aí 70 anos e diz:
- Se me permite um conselho, e já que bebe tão pouco, então nunca compre garrafas de menos de três euros. Abaixo disso, é vinho feito a martelo...
- Pois se calhar. Mas cada um é que sabe da sua bolsa... - responde-lhe o do cabelo pintado.

Leve cinco e pague seis
Era comprador compulsivo e fanático por promoções, adorador de sextas-feiras negras. Um relâmpago que entrava, escolhia, pagava e saía das grandes, pequenas e remediadas superfícies num abrir e fechar de olhos das câmaras de vigilância, que realmente nunca o viram. Acreditava que 13,99 são treze e não catorze euros. Se lhe aparecesse à frente "Leve cinco e pague seis!!!", letreiro jeitoso em vermelho e amarelo rematado por veementes pontos de exclamação, ele aproveitava logo...  

Olho por olho
Hortaliça comprada nas farmácias é 25 por cento mais barata do que nos hipermercados. Latas de salsichas de seis unidades com 50 por cento de desconto e uma embalagem grátis de supositórios para a tosse.

P.S. - Hoje, 12 de Novembro, festeja-se o Dia dos Supermercados. No Brasil. O Brasil tem dias para tudo. Até tem o Dia da Liberdade ou Dia Nacional da Liberdade, que por acaso também é hoje. E tem Jair Bolsonaro. Tem, não tem? Hoje ainda tem...

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