sábado, 14 de novembro de 2020

Faltame a poezia. Vou iscreber um romançe;

Olho pela janela e chove.
Chove que Deus a dá
porém não chove
por aí além
porque a crise já se sabe
chega a todos
inclusive ao Sempiterno
ao Senhor das Águas.

Durante quase toda a noite
fez um sol de categoria
sei porque sonhei
mas agora não
não faz sol nem sonho.

Olho pela janela e vejo
telhados vermelhos e cinzentos
cinzentos suspeito que de lusalite
e quase me dá uma himoptise
tusso e desisto.

Eu tusso muito bem
e desisto ainda melhor.  

Vejo cinco telhados cinco
o resto são paredes paredes
de prédios de doze andares doze
cheios de janelas e marquises marquises.

Paredes prédios a precisarem pelo menos de pintura
pintura.

Nos telhados nem um gato
nem uma gaivota
um melro sequer.
Estão cá sempre todos
menos o melro que eu nunca vi
e hoje
agora
não sei o que lhes deu.

Ter-lhes-á sucedido
confinamento?

Estou sem gatos,
sem pássaros,
sem sol. 
Chove apenas. Moderadamente.

Digamos
períodos de chuva ou aguaceiros
em geral fracos
a partir do meio
da manhã
e já vamos a estas horas.

Assim não há condições
para fazer poesia,
condições
para que a poesia aconteça.

Acho
que vou escrever
um romance histórico
com 987 páginas.

Entrego-o amanhã
se não chover.

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