terça-feira, 5 de maio de 2020

E viva o Benfica!

Foto Hernâni Von Doellinger

Parece que Joaquim Oliveira vendeu os jornais a Angola. E depois? Qual é o escândalo? O que é que Portugal perde com a passagem do Jornal de Notícias e do buraco do Diário de Notícias para as mãos de um grupo angolano? Perde independência? Isenção? Credibilidade? Transparência? Rigor? Qualidade? Profissionalismo? Competência? Seriedade? Memória? Deontologia? Dignidade? Referência? Jornalismo? Não se perde o que não há. Talvez se percam empregos. Mas estou em condições de assegurar que isso já aconteceu outras vezes, mesmo antes da chegada dos angolanos.

Uma vez, o estado-maior da Controlinveste descia no elevador do Edifício JN do Porto e eu também. Eu era um dos prescindíveis do 24horas, excesso de bagagem, mas ainda não sabia. Entrei a meio caminho para ir a casa comer a sopa. Ir num pé e vir no outro. Disse boa tarde, mas ninguém me ligou. Aquela gente não ouve, não vê nem pensa para além do umbigo de cada qual. Iam todos entretidos na galhofa, preparando mais uma leva de despedimentos. A maior de todas. Eram os filhos do Joaquim, acolitados por um ou dois administradores anónimos limitados e pelo director de publicações, João Marcelino. E era exactamente Marcelino o animador de serviço, exibindo a capa do Diário de Notícias daquele dia. Dizia o também director do DN - "O que é preciso é isto: mete-se aqui este vermelhinho e está o assunto resolvido, é só vender".
João Marcelino referia-se à foto do Benfica que dominava a primeira página do DN. E (deixemo-nos de hipocrisias) não estava a dizer nenhuma asneira. Haja Benfica! O Diário de Notícias tem finalmente quem o compre...

P.S. - Publicado originalmente no dia 11 de Junho de 2014. E como se fosse hoje. O jornal 24horas nasceu em 1998 e morreu em 2010, um ano depois de os seus alegados responsáveis terem liquidado a Redacção do Porto, a sangue frio e pelas costas. Eram os primeiros dias de Maio quando nos despejaram no desemprego, e podem limpar as mãos à parede. Mas tinha piada o pasquim, que até chegou a ser bem feito, e é a bíblia do jornalismo que hoje se faz em Portugal. Quanto a Oliveira e seus asseclas, continuam a despedir e a destruir jornais e lares, com uma perseverança digna de registo.

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