Gosto de nomes, gosto do falar antigo, gosto das palavras. Gosto de palavras com piada fina, palavras como parreca, como esbraguilhado, como caguinchas, como cachicha, como pinante.
Mas ainda gosto mais de palavras desalinhadas, subversivas,
fora-da-lei. Matreiras e despudoradas. Gosto de palavras que não são o que parecem.
Aprecio especialmente as palavras que violam a ordem estabelecida, provocadoras, palavras que viram a norma de pernas para o ar e
a abusam, como por exemplo, sem ofensa para os presentes, solhão, cordão,
pontão, estradão, picão ou calção.
Cá está. Cá estão: solhão, cordão,
pontão, estradão, picão e calção, palavras rematadas com o famoso sufixo "ão",
unanimemente considerado pelos mais reputados gramáticos
como um dos sufixos por excelência para a formação de aumentativos. E,
no entanto, para quem sabe das coisas, solhão é uma espécie de solha
mais pequena, cordão é uma corda de bolso, pontão é uma pontinha sobre
um ribeiro, estradão é uma estrada estreita e geralmente em terra
esburacada, conveniente para ralis, picão é uma picareta diminuta,
ferramenta de mineiros, e calção é cueca ou calça curta. São excepções que confirmam a regra? Não, pelo
contrário: são palavras que querem que as regras se fodam.
Evidentemente a palavra pilão levar-nos-ia muito mais longe.
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