O Dia dos Enganos era celebrado em Fafe com pompa e circunstância. Era
uma tradição. Na minha terra, naquele tempo, festas assim familiares
como por exemplo o Entrudo tinham as suas normas, liturgia própria. Pelo
Entrudo, se me dão licença, eram os peidos-engarrafados no Cinema. Uma lixeira de confetes e serpentinas, mas sobretudo peidos-engarrafados, um
fedor que eu sei lá mas uma grande risota, ou se calhar um grande risoto, como hoje em dia será mais fino dizer.
Durante o resto do ano, no Cinema, só peidos biológicos, caseiros, que,
não desfazendo, também eram uma categoria. Eram peidos subversivos,
contra o governo, que nos alimentava a couves e tínhamos de as comprar, porque nem os ricos as davam - vendiam-nas como se precisassem ou preferiam deitá-las aos porcos, que infelizmente não éramos nós, os pobres, no caso em apreço. Mas o
Dia dos Enganos, que foi ao que vim, evidentemente equivocado: no Dia dos Enganos saíamos para a
rua, ali no Santo Velho, estrategicamente colocados entre os tascos do
Paredes e do Zé Manco, e dizíamos a quem passava: - Ó senhor, olhe o que lhe
caiu!...
- Foi um peido que me fugiu... - levávamos logo de resposta, que também fazia parte. Um sucesso!
É, bons tempos: pobretes mas alegretes. Os peidos eram o nosso escape natural, o epítome do divertimento que se podia...
P.S. - Pelo Entrudo, em Fafe, queimava-se o Pai das Orelheiras, velha tradição popular, de afirmação de rua, que andou perdida durante anos e que a Câmara Municipal resgatou em 2017, se não me engano.
Sem comentários:
Enviar um comentário