Um dos títulos mais useiramente infelizes na nossa comunicação social
são dois: "Fulano venceu o cancro" e "Sicrano derrotado pelo cancro".
Os heróis e os falhados. Ultrapassa-se o cancro simplesmente porque se
faz muita força, morre-se de cancro por indecente e má figura.
Ora,
a realidade lá fora dos teclados e da tabela de vendas não é assim.
Sobreviver ao cancro está muito pouco nas mãos de quem o padece. Depende
de tantas e tantas variáveis exteriores ao doente e à "coragem" do
doente, que só vou citar duas, dinheiro e médicos, e nada é garantido, e
tudo se resume, no final, a tempo, sorte ou azar. Não há fortes e
fracos, competentes e incompetentes, lutadores e cobardes. Não há vencedores nem vencidos nisto do cancro, assunto sério. É
a vida.
Imagine-se o ridículo que seria levar o
jargão jornalístico até às últimas consequências e, em casos de
atropelamento, escrevermos, elogiando os sobreviventes, "Fulano venceu a
motorizada", aos pontos obviamente, ou, injustiçando os mortos,
"Sicrano derrotado pelo motociclo". Horrível, não é? Pois com o cancro
também.
P.S. - Não posso garantir que esta seja a última vez que republico este textinho de protesto. É a minha luta contra a estupidez.
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