Ciúme
Vão decorrendo as horas, vão-se os dias,
Mas como outrora ela não vem. Ciúme?
Olho em redor de mim, meu pobre lume,
São tudo cinzas mortas, cinzas frias.
Bateu o relógio as horas do costume,
E tu não vens, já não te vejo mais...
Dos nossos dias, vivos, triunfais,
Só restam coisas mortas e sombrias.
Não sei que mágoa e dor meus olhos cobre.
Sinto que alguém morreu dentro de mim.
Bate o relógio as horas, como um dobre,
A dizer, a dizer: tudo tem fim.
Vai a tarde a morrer, e um frio imenso
Cai sobre mim como um pólo de gelo.
Junto de ti, quem estará, eu penso,
A beijar, em silêncio, o teu cabelo?
Nessas tardes, assim, vagas, sensuais,
Eu não quero pensar um só momento.
Se foram minhas, hoje são dos mais...
Deixo-as morrer no frio esquecimento.
"Bosque Sagrado", Alfredo Brochado
(Alfredo Brochado nasceu no dia 3 de Fevereiro de 1897. Morreu em 1949.)
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