Tenho uma saudade tão braba
Tenho uma saudade tão braba
Da ilha onde já não moro,
Que em velho só bebo a baba
Do pouco pranto que choro.
Os meus parentes, com dó,
Bem que me querem levar,
Mas talvez que nem meu pó
Mereça a Deus lá ficar.
Enfim, só Nosso Senhor
Há-de decidir se posso
Morrer lá com esta dor,
A meio de um Padre Nosso.
Quando se diz "Seja feita"
Eu sentirei na garganta
A mão da Morte, direita
A este peito, que ainda canta.
"Caderno de Caligraphia e Outros Poemas a Marga", Vitorino Nemésio
(Vitorino Nemésio nasceu no dia 19 de Dezembro de 1901. Morreu em 1978.)
Sem comentários:
Enviar um comentário