[Estamos irremediavelmente perdidos]
Estamos irremediavelmente perdidos,
e só nos resta esperarmos o fim de tudo
neste mundo onde ninguém se compreende
apesar de todos falarem a mesma língua,
sofrerem as mesmas dores,
viverem os mesmos segundos, sob um mesmo céu.
Estamos irremediavelmente perdidos,
olhando os campos que já não nos pertencem mais,
olhando um céu insensível
que apesar de tudo ainda é nosso e ninguém nos tomará.
Enquanto não vem o fim,
pensemos no princípio, tragicamente imóveis nesta planície
onde todos vêem e estão miseramente cegos,
onde todos ouvem e estão miseramente surdos,
onde todos falam e estão miseramente mudos.
Estamos irremediavelmente perdidos.
Só as mãos e os olhos ainda se compreendem mas se calam.
Deolindo Tavares
(Deolindo Tavares nasceu no dia 21 de Dezembro de 1918. Morreu em 1942.)
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