No dia seguinte, ao sentar-se à mesa, os olhos fundos e negros caíram placidamente sobre os dele, como duas águias que vergam asas e descem devagar sobre a presa.
Dois mistérios sob os flabelos das pestanas viviam naqueles
templos sombrios, sob a arcaria das sobrancelhas. As pálpebras subiam como cortinas de altar-mor, e as duas luzes imergiram...
Ele, medroso pela primeira vez ante a mulher, baixou os seus, pensando entretanto bem no íntimo que era de seu desejo deixar perpetuamente a sua vista ancorar naqueles lagos profundos.
Nunca
mulher alguma o olhara assim. Não sabia daqueles quebrantos em olhados febris
de amor ou de desejo. Nessas órbitas havia lampejos, como luzes de ponche
incendiado, e logo escuridões de um negro sinistro, trágicas como se a vaidade daqueles olhos fosse à pretensão insolente de parecer dois céus, onde sóis rondassem e noites acampassem.
Edmundo via tudo naquela vista de inferno.
"A Mulata", Carlos Malheiro Dias
(Carlos Malheiro Dias nasceu no dia 13 de Agosto de 1875. Morreu em 1941.)
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