Daqueles seis túmidos, seminus, justapostos como dois gémeos num colo de jaspe, circulado de flores e alumiado em cintilações de diamantes e rubis orientais; daquele vinco untuoso do dorso, que, a descer da nuca penugenta, se ia perder misteriosamente na curva côncava dos lombos, daqueles coxins refeitos das espáduas, continuando-se nas linhas cruas dos deltoides roliços e dos antebraços, resguardados até acima dos cotovelos em macia pelica, distendida pelos punhos franzinos e as pontas afiladas dos dedos; daquela cintura quebradiça, a jungir por um contraste arrojado as amplidões rendadas e florescentes do tórax com as mais salientes da pelve; daquele triunfante sorriso, que lhe sobredourava os lábios finos, os olhos arrepanhados no véu das pálpebras; das travessas espiras do cabelo, torcido atrás em grandes massas; da majestosa cerviz, balouçada num piso de semideia; daquele poema, enfim, de falbalás, reflexos, nuvens, fantasias, a compreender outro poema mais eloquente de carne tenra e palpitante; desprendiam-se capitosos odores, vívidos coloridos, eflúvios quentes, que embriagavam de desejos lúbricos e irritantes todos os olhos que a viam, os olfactos que a aspiravam e as epidermes que lhe roçavam de leva pedaços frescos da pele rósea.
"O Suplício de Um Marido", Ferreira Leal
(Ferreira Leal nasceu no dia 30 de Agosto de 1850)
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