O clown
Sem apoio.
 Solto na expectativa impaciente do irresistível.
 Bloqueado pela ameaça circular dos cobradores
 de jocoso, dos famintos de angústia grotesca.
 Sem trapézio, como o trapezista.
 Sem alteres, como o hércules.
 Sem o aparato dos músculos, como o acrobata.
 Sem refúgio e sem armas, desafia o risco manejando apenas
 a desarticulação do jeito humano,
 a deformação da máscara idiota onde a
 graça estoura como um pontapé nas nádegas.
 Sua ginástica tem de ser no vazio
 sobre os fios frágeis do fracasso e do ridículo.
 Dentro da roupa larga,
 o corpo desengonçado
 chacoalha cores, tropeça, achata-se sobre a
 serragem do picadeiro.
 A bofetada do partner
 faz desabafar o delírio
 sobre o tombo de costas (perfeito)
 com estalos fingidos de espinha partida e
 occipital rachado.
 O aplauso voraz, em volta, o constringe
 como uma goela de carnívoro.
"Lanterna Verde", Felipe d'Oliveira
(Felipe d'Oliveira nasceu no dia 23 de Agsoto de 1891. Morreu em 1933.)
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