sexta-feira, 2 de março de 2018

Nuno Júdice vence Prémio Rosalía de Castro

Domingo no campo

Aos domingos, quando os sinos tocam
de manhã, o que neles se toca é a manhã,
e todas as manhãs que nessa manhã
se juntam, com os dias da infância que
nunca mais acabavam, as casas da aldeia
de portas abertas para quem passava,
as ruas de terra batida onde as carroças
traziam as coisas do campo, os cães que
corriam atrás delas, uma crença no sol
que parecia ter expulso todas as nuvens
do céu, e a eternidade desses domingos
que ficaram na memória, com o ressoar
dos sinos pelos campos para que todos
soubessem que era domingo, e não havia
domingo sem os sinos tocarem a lembrar,
a cada badalada, que os domingos não
são eternos, e que é preciso viver cada
domingo como se fosse o primeiro, para
que o toque dos sinos não dobre

por quem não sabe que é domingo.

Nuno Júdice 

(O poeta português Nuno Júdice foi esta semana anunciado como um dos vencedores do Prémio Rosalía de Castro do Centro PEN Galicia)

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