Pego-lhe
no caderno, aperto-o nas mãos, avalio-lhe o peso, interrogome sobre
o mistério de cento e trinta gramas de papel e de tinta poderem
conter uma parte da minha própria vida (e não apenas adele).
Continuo:
- Escrevo há dois meses... Não, não falo de política, e só agora dou por
isso.
O anel
escapara-lhe dos dedos, parecia uma bala, o Aleixo acocoravase nesse
instante (mas seria rigorosamente nesse instante, a memória não
trairá?) debaixo da mesa. Quando regressou, disse:
- Escreves um romance...
- Que
disparate!
- Qualquer coisa que possas publicar... Não sonharás com a glória? - continuava
a rir-se, o anel enfiado no dedo. - Um diário sem política é um diário falso, pelo menos se for
escrito por ti.
"Bolor", Augusto Abelaira
(Augusto Abelaira nasceu no dia 18 de Março de 1926. Morreu em 2003.)
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