[...] O texto é uma romagem à Criação e recorda que o ornitorrinco é anfíbio, tem um bico de pato achatado e uma cloaca. Tem a morfologia de um texugo ainda mais acachapado e o corpo coberto de pelos. A estrutura óssea tem elementos próprios dos répteis que nele se encaixam num sistema de mamífero. Mamífero que nele se revela também porque as fémeas amamentam as crias.
A longa querela dos zoólogos para o classificarem não terá contribuído também para lhe insuflar o pundonor. Afinal, decidiram que ele era um mamífero, mas sob um rótulo que não é propriamente uma comenda: 'monotrémato'. E o nome que reservaram para a espécie evoca-lhe a ave que ele talvez tenha querido ser mas não foi: 'ornitorrinco'. Discutem se a espécie está extinta ou em vias de extinção. Procuram-no em cada moita ribeirinha dessa Austrália dos paradoxos naturais. Ele espreita as expedições científicas e oculta-se, resvalando no lodo até à água. Não quer ser visto nem estudado, nem compreendido. [...]
Nuno Brederode dos Santos (no Expresso)
(Nuno Brederode dos Santos nasceu no dia 14 de Dezembro de 1944. Morreu em 2017.)
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