Balada
O lugar de Sequeiros planta-se no alto da Serra de Queiró, arriba de Zebrais.
É terra de pastores, encravada entre penedos. Os homens vivem ali, esquecidos dos outros homens, a cuidar dos rebanhos e a ver crescer os pastos. O gado é a vida da gente de Sequeiros; a lã, o seu trigo e o seu pão. Só nos escassos meses de veraneio a terra fica nua e pode gear. No Inverno, vestida de branco, ela adormece. Pastores e rebanhos pernoitam no quente dos currais, e o dia é da serra, na pista do verde. O Inverno traz a fome a homens e animais.
Semanas e semanas o gado no coberto, por culpa dos nevões, sem poder emigrar para o vale. Depois, morre a erva, já pouca, queimada pelo gelo, seca o leite das fémeas, e cresce a fome dos pastores.
Manel Libório era homem rico, senhor de terras e de muitas cabeças. Melo Bichão era pastor velho e pobre, a quem já ninguém confiava gado. Manel Libório vivia em casa de bom aconchego, rodeado de família. Melo Bichão dormia quase na rua e tinha apenas um filho amalucado. Manel Libório e o seu rebanho passavam vida farta. Melo Bichão, o filho, e as suas sete ovelhas curtiam fome como danados. E ambos eram criaturas de Deus, naturais de Sequeiros.
Nesse ano, o Inverno chegou cedo. Duas semanas de nevão cobriram a serra de branco e queimaram o pastio. Foi então que começou a tragédia do pastor velho e cansado, pai de um filho doido e dono de sete ovelhas famintas.
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"Serranos", Mário Braga
(Mário Braga nasceu no dia 14 de Julho de 1921. Morreu em 2016.)
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