domingo, 9 de julho de 2017

Maria Isabel Barreno 2

Ele morreu, um homem importante; não tenho pena; não quero recordá-lo, como muitos se apressam a fazer, transformado em bom homem, de gestos generosos. Era por exibicionismo que se aproximava dos seus inferiores; tenho razão em recordar como uma afronta, sempre, a boleia que um dia me concedeu, no seu carro; e a ligeireza com que tratou um miúdo que vendia revistas. A família é esquisita, também. O cunhado não veio, a cunhada deve ser meio desparafusada, como já me tinham dito, a filha entretém-se a olhar em volta como se estivesse no circo; a viúva, essa muito chorosa, tem um casaco de peles.

"De Noite as Árvores São Negras", Maria Isabel Barreno

(Maria Isabel Barreno nasceu no dia 10 de Julho de 1939. Morreu em 2016.)

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