terça-feira, 11 de julho de 2017

Franklin Dória

Fadário

O poeta, primeiro, preludia
Sons fugitivos de um viver sem dor:
Colhe sonhos gentis na fantasia;
É o doce cantor.

Ama o céu, e o mar, e a natureza,
Essa eterna epopeia do Senhor;
Ama, sem escolher, qualquer beleza;
É o doce cantor.

Ao depois, o poeta se desprende
Do formoso jardim, no qual viveu:
Sua alma agora vivo lume acende;
É o cantor do céu.

Para o amor da mulher achou estreita
A terra, em que inocente adormeceu;
Para mundos etéreos se endireita;
É o cantor do céu.

Voltou depressa, que encontrou espinhos,
Julgando achar esplêndidos troféus:
Sentou-se sobre o marco dos caminhos;
É o cantor de Deus.

E, solitário, com o olhar aflito
Fitado lá na abóbada dos céus;
E nas faces o pranto do proscrito...
É o cantor de Deus.

"Enlevos", Franklin Dória

(Franklin Dória, Barão de Loreto, nasceu no dia 12 de Julho de 1836. Morreu em 1906.)

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