Da travessa em diante a embarcação desgalgou-se, com um vento mais fresco.
Jana se havia acomodado numa caixa de mantimentos, e de frente para o pescador, que governava recostado à popa, ia relatando as peripécias e os casos banais da sua vida na cidade, com acentos de mágoa longamente padecida.
Quando acabou de contar, entreviu a ilha com o sinal branco da ermida abaixo do cume da montanha, e o cole vermelho, pelado de ervas, extremando a curva do poço. Acudiram-lhe perguntas, e entrou a pedir notícias, umas sobre outras.
- Os manos... que fim levaram, Joel? Não era Cosme que pescava e andava no mar com você?
- Cosme foi pra a Enseada. Mudou-se para lá por causa de uma rapariga. Eu vali-me deste menino que veio do Bom Jesus e andava à toa tirando palha de aricuri. É um pobre como eu fui. Cosme vive na mesma casa com o pai da moça, um velho fazedor de vassouras e pescador de tarrafa. Dizem que vai se casar.
- Deveras! E Damião também já tem casa?
- Este, logo que o mestre morreu, vendeu a casa, tomou seu quinhão e foi trabalhar num forno de cal do Boqueirão. Não sei se tem mulher. Pode ser. Quem se casou esta semana foi a sobrinha de Maria Guaiuba... Tio Gregório foi-se...
- Coitado... Então você mora só, na casa dele.
- Moro, sim. A casa é nossa, ele deixou a casinha pra mim.
- Bom velho...
"Jana e Joel", Xavier Marques
(Xavier Marques nasceu no dia 3 de Dezembro de 1861. Morreu em 1942.)
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