quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Cláudio de Sousa 3

Acabaram-se as aulas. Rara era a análise que ainda se fazia. Eu continuava a ir diariamente ao laboratório.
Trazia um livro, punha-me a lê-lo. Ou enchia as páginas de um caderno com anotações relativas a meu professor de Química.
Bedford veio certa tarde ao laboratório, agradeceu-me a dedicação e dispensou-me a assistência, lamentando nada poder oferecer-me.
Conservaria, apenas, o rapaz que lhe estava fazendo, ao mesmo tempo, o serviço de recados. (Os recados eram pedidos de dinheiro a uns e a outros. A mim não mo pedira ainda, talvez por acanhamento.)
- Se quiser vir prosear, é com prazer.
A fórmula era de simples polidez, porque ele passava os dias ao lado de Mariana.
Continuei a frequentar o laboratório, entretanto. Por que, se nada havia ali que fazer?
É o que só agora compreendo, ao escrever estas notas.
Era o eflúvio imponderável, a emanação fatal daquela carne lúbrica de mulher que se ia apoderando de mim... Como vim a sentir-lhe o doce e cruel apelo!...

"As Mulheres Fatais", Cláudio de Sousa

(Cláudio de Sousa nasceu no dia 20 de Outubro de 1876. Morreu em 1954.)

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