- Estou um velho - disse o velho.
- Não está nada - disse a visita.
- Um caco - disse o velho.
- Está cada vez mais novo - disse a visita.
- Já não duro muito - disse o velho.
- Daqui a vinte anos ainda nos havemos de rir - disse a visita.
- Estou fodido, estou como hei-de ir - insistiu o velho.
- Por acaso até o acho com muito bom aspecto, melhor do que da outra vez - insistiu a visita.
- Dói-me tudo - disse o velho.
- Pois também é da idade, quem andou não tem para andar, o que é que queria? - disse a visita.
- É o que eu digo, caralho: estou um velho - insistiu o velho.
- Por acaso não acho nada, quem me dera a mim - insistiu a visita.
Para acabar de vez com a conversa de merda, o velho resolveu morrer. E morreu.
- Olha, o filho da puta do velho tinha razão - disse a visita, aliás acompanhante, e comeu-lhe a maçã assada. Que é o que servem para salvar os doentinhos nos corredores da urgência do hospital. E bolachas.
(Escrevi e publiquei este texto no dia 13 de Abril de 2015 e pus-lhe hoje um pequeno acrescento. O título era também outro, mas parecido.)
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