Amor
Aqueles olhos aproximam-se e passam. 
 Perplexos, cheios de funda luz, 
 doces e acerados, dominam-me. 
 Quem os diria tão ousados? 
 Tão humildes e tão imperiosos, 
 tão obstinados! 
 Como estão próximos os nossos ombros! 
 Defrontam-se e furtam-se, 
 negam toda a sua coragem. 
 De vez em quando, 
 esta minha mão, 
 que é uma espada e não defende nada, 
 move-se na órbita daqueles olhos, 
 fere-lhes a rota curta, 
 Poderosa e plácida. 
 Amor, tão chão de Amor, 
 que sensível és... 
 Sensível e violento, apaixonado. 
 Tão carregado de desejos! 
 Acalmas e redobras 
 e de ti renasces a toda a hora 
 Cordeiro que se encabrita e enfurece 
 e logo recai na branda impotência 
 Canseira eterna! 
 Ou desespero, ou medo. 
 Fuga doida à posse, à dádiva. 
 Tanto bater de asas frementes, 
 tanto grito e pena perdida... 
 E as tréguas, amor cobarde? 
Cada vez mais longe, 
 mais longe e apetecidas. 
 Ó amor, amor, 
 que faremos nós de ti 
 e tu de nós?
 
Irene Lisboa
(Irene Lisboa nasceu no dia 25 de Dezembro de 1892. Morreu em 1958.) 
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