sábado, 19 de dezembro de 2015

Ernesto Guerra da Cal 2

Filho pródigo

Abre-me a Porta
Pai!
Abre-me a Porta!

Porque venho cansado
e derrotado
desfeito
pobre
e nu
e envergonhado

Tudo esbanjei
Só trago
encravados no peito
nele bem entranhados
os pungentes punhais
de todos os Pecados Capitais

Delapidei o rico Património
do teu Amor
na subida
arrogante e pressurosa
da Montanha da Vida

E hoje conheço a Dor
da descida agoniante
trémula e vagarosa
pela encosta abrolhosa
na que nos acompanha
o impiedoso demónio
da consciência dorida
da fortuna malgasta
dissipada
e a existência perdida

Abre-me a Porta
Pai!
E acende a luz da Casa
que outrora foi a minha
quando eu era inocente
criancinha

Não me tardes
Senhor!
Abre-me a tua Porta luminosa
depressa, por favor!

"Futuro Imemorial", Ernesto Guerra da Cal

(Ernesto Guerra da Cal nasceu no dia 19 de Dezembro de 1911. Morreu em 1994.)

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