Andavam as duas, como eu, a solhar no passeio marginal de Matosinhos, que deve ter custado um dinheirão e está mais perigoso do que picada africana em tempo de guerra. Elas falavam e falavam e falavam, como só elas sabem falar, as duas ao mesmo tempo e a uma velocidade que as suas curtas pernas não conseguiam acompanhar. Têm as línguas muito mais compridas e ginasticadas. Eu, que sou mais alto, olhava para o chão cheio de cuidado, a ver onde punha os pés, para não acabar no hospital, e elas falavam, falavam, falavam. Falavam de despesas, de compras, de casa, dos filhos e dos cães, da crise, de dinheiro mal gasto e de dinheiro bem gasto.
Até que a voz de uma se sobrepôs à voz da outra e eu ouvi claramente ouvido: "Sabes que não se pode dizer tudo aos maridos". Foda-se!, disse eu mais do que pensei, como se tivesse sido atingido por um raio que as parta. Será possível? Elas não contam tudo aos maridos? Terei sido e andado enganado durante estes anos todos? Não pode ser. Eu não sou assim tão ingénuo! As mulheres não dizem tudo aos maridos? Deixa estar, que até vou perguntar à minha.
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