É mesmo verdade. Muito antes desta tão badalada visita a Lisboa, Bourdain já tinha vindo ao Porto e aos Açores. E é claro que tinha que começar pelo Porto. Creio que foi no ano de 2001, era ele ainda um grande maluco de argola na orelha e keffiyeh à volta do pescoço. Desse tempo só sobrou o grande maluco. Que comeu castanhas assadas em Santa Catarina, foi ao Majestic, passeou pela Ribeira e pelo Mercado do Bolhão, visitou a Mercearia do Bolhão e almoçou no Rogério do Redondo: sardinha pequena frita, cabeça de pescada cozida com todos e as sacramentais tripas à moda do Porto.
Depois levaram-no ao Aleixo. Provou a salada de polvo e os bolinhos de bacalhau com feijão-fradinho, para ganhar embalo até aos filetes de polvo com arroz do mesmo que dão fama e proveito à casa. O excelente programa televisivo de Anthony Bourdain chamava-se então A Cook's Tour e ainda procurava naquela altura a fórmula de sucesso que veio a afinar um pouco mais tarde, provavelmente já em No Reservations. Receita simples: uma mistura bem temperada de viagem e gastronomia, um estilo de apresentação irreverente e politicamente incorrecto que cativa e, por estranho que pareça, ensina.
Na sua estada pelo Norte, Bourdain deu também um salto aos vales do Douro e do Tâmega, comeu bacalhau com natas, lombo de porco e cabrito assado em forno de lenha. Teve ainda o privilégio e o incómodo de assistir a uma matança de porco e às litúrgicas operações de desmancho e salga, acabando o dia a jogar à bola com a bexiga do bicho, como mandava a tradição.
E depois foi-se embora. Atenção: foi-se embora sem antes ir à Conga comer uma bifana. Mas comeu bifanas agora em Lisboa. Isto cabe na cabeça de alguém? As bifanas da capital sempre me mereceram as maiores reservas e, francamente, a equipa do No Reservations deveria estar na posse desta importante informação.
Bourdain disse que gostou muito das nossas "sanduíches gordurosas de porco", com carne "imunda e cortada em fatias finas". É uma definição elegante e que se aceita. Mas havia de ter provado as do Porto! E não me venham dizer que as bifanas são iguais em todo o lado. Porque não são. E não me venham dizer que é só temperar com vinho branco e mais não sei quê (o resto fica cá comigo). Porque não é. É com o vinho (e com o resto), mas também com cerveja, ou para onde é que vocês cuidam que vão as sobras dos barris e a espuma que esborda dos finos (ou imperiais) mal tirados? Vai tudo lá para dentro, para o caldeirão da molhanga, e aqui é que bate o ponto. Aqui é que a porca torce o rabo. É que as bifanas do Porto chafurdam em Super Bock. E isso faz toda a diferença.
(Mais em Anthony Bourdain deixou-me ficar mal.)
Abriste-me o apetite! Como não há bifana, vai mesmo o lanchinho que trouxe de casa. Mas a bifana ia bem, com um fininho ou dois a acompanhar. Mesmo que sejam 11h19, ia bem. Ai se não ia!
ResponderEliminarAbraço,
P.
No âmbito do comité de sábios de que faço parte, fui lá (à Conga 2, que andam melhores!) na passada quarta-feira realizar a prova de Dezembro. E não há comparação possível. Eu nunca comi bifanas de Lisboa - tarrenego! -, mas não há comparação possível!
ResponderEliminarGrande abraço.
Nao te esqueças das fabulosas bifanas do Preto do Bom Sucesso. Nao há igual e sábado sim sábado nao, la vou eu buscar 3 ou 4 bifanas para almoçar com a super bock a fazer companhia. Quando tiveres oportunidade de fazeres as tuas eu aceito o convite e levo-te as tuas famosas " primas " para acompanhar.
ResponderEliminarAbraço
Miguel
Obrigado, Miguel, pela visita e pelo comentário. Bom apetite!
ResponderEliminarAs bifanas são diferentes nos vários sítios do país e não consigo dizer que as bifanas do Porto são melhores ou piores que as outras. Adoro comer e por isso vão as bifanas do Porto, as de Lisboa, as de Vendas Novas...é as que aparecerem e as francesinhas também são como as botas da tropa, também marcham, lol
ResponderEliminarObrigado, caro Scorpion, pela visita e pelo comentário. E bom apetite!
EliminarGanda Doido!
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