sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Os sonhos são como o algodão: hidrófilos

Ultimamente dá-me para sonhar com pessoas que já morreram. Pessoas de quem gosto - familiares e amigos, sobretudo amigos. Sou um simples, acho que são saudades. Mas dizem-me que não, que o assunto é muito mais complicado, especialistas em correntes de ar garantem-me que os sonhos querem dizer coisas, significam, e que não enganam. Como o algodão do Sonasol. Nos sonhos está lá tudo, e tudo acaba por bater certo. Limpinho.
Sonhar com pessoas amigas que já morreram, falar com elas no sonho, explicam-me que é o melhor que me podia acontecer. É o pré-aviso de que está aí a rebentar-me nas mãos uma fartura de boas notícias, um mar de felicidade e saúde como o aço para mim e para os meus. O que é preciso é estar atento aos recados que os defuntos da corda me querem segredar. Isto é a regra geral, científica, embora possa parecer o horóscopo.
Não sei se esta tão conveniente interpretação dos sonhos com mortos também vale para Portugal e para vivos chamados Hernâni Von Doellinger naturais de Fafe e residentes em Matosinhos-sur-Mer. Pela miséria que me tem saído na rifa nos últimos tempos, suspeito que não, mas cá fico à espera de melhores dias.
Tenho alguma pressa, confesso, porque se uma coisa sei de certeza é que os sonhos padecem de prazo de validade. Um gajo deita-se uma noite moço e convencido de que os sonhos molhados até são um acontecimento, vá lá, engraçaaaaado..., e acorda de manhã ancião e alagado em mijo derivado à incontinência urinária. A vida é tão breve, não foi?
Entretanto, gostaria de aproveitar a oportunidade para comunicar aos meus sonhos que, uma vez que desdenho a Raspadinha, o que me convinha mesmo era o Euromilhões. O jackpot do jackpot, se fazem favor. Agora vou dormir e passo à escuta.

Por falar nisso: sonhar com algodão dizem que é muito bom para a saúde e que traz uma vida cheia de dinheiro e de felicidade. Bem empregue. É preciso ser-se mesmo muito desgraçado para sonhar com algodão. Se ainda fosse com merda..

Mijar no Terrace custa pelo menos euro e meio
Aflitíssimo, entrei no Terrace e pedi: - Por favor, dá-me licença de utilizar a casa de banho? -. Estava preparado para receber uma de duas respostas, "sim" ou "não", mas deram-me a terceira: - Vai tomar alguma coisa? - Eu disse que beberia uma água e tornei a pedir: - Por favor, dá-me licença de utilizar a casa de banho? - Que assim sim. Utilizei então a casa de banho, isto é, mijei, fiz uma descarga de autoclismo, limpei do chão duas pingas que não souberam o caminho e lavei as mãos. Evidentemente eu poderia sair da casa de banho do Terrace e vir-me embora, mas fui tomar a água contratada. Aproveitei para explicar calmamente ao jovem e educado funcionário que um dia, quando ele for mais velho, talvez da minha idade, vai ficar tipo fodido por lhe fazerem a ele o que ele me fez a mim. O jovem e educado funcionário disse-me que é desta maneira que ali se trabalha, no Terrace, por ordens da gerência. Paguei um euro e meio pela água e estou arrependido: não sei se o dinheiro chegava, mas, em vez de beber a puta da água, devia ter comido um biju. A água pôs-me outra vez à rasca na viagem de metro da Trindade até Matosinhos. Vim a correr para casa e mijei-me pernas abaixo mal consegui abrir a porta...

O Terrace é um café situado no gaveto das ruas de Fernandes Tomás, da Trindade e do Estêvão, nas traseiras da Câmara Municipal do Porto. E tem gerência.

P.S. - Apontamentos publicados originalmente nos dias 11 de Setembro de 2014 e 20 de Outubro de 2018, respectivamente. Hoje, 29 de Janeiro, Portugal assinala o Dia da Incontinência Urinária. É também Dia Internacional do Hanseniano.

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